PARTE I
A Terra-Média e a Origem do Mal

Muitos pensam que todo mal na Terra-Média tem sua origem em Sauron. Como veremos a seguir, o poderoso Sauron não passa de um servo. E mesmo Sauron, um dia, foi bom e belo, antes de se transformar na criatura terrível, tanto na sua forma física quanto moral.
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Para entender onde está a origem de todo mal, é necessário compreender que a Trilogia do Senhor dos Anéis, na verdade, é o epílogo de todo um drama que tem início na origem dos tempos, antes mesmo de Arda, o mundo, ter forma. 

É desta época que nos lembraremos agora.

Foi um tempo onde nada existia. Não havia forma, não havia vida, não havia nem mesmo a matéria caótica que gera sistemas, mundos e sóis. Havia apenas Ilúvatar, mais tarde conhecido com Eru, em Arda. 

Ilúvatur não tinha forma, idade e tampouco origem. Ilúvatar é aquele que existia antes da existência, o perfeito e o imensurável. A origem da origem. 

De seu pensamento nasceram todos os primogênitos, os Ainur. Apesar de serem menor que Ilúvatur em poder, eram seres de grande estatura espiritual, plenos de beleza e majestade. Eram em número de sete e cada qual tinha seu desdobramento sagrado, sua esposa, sua rainha.

Enquanto Ilúvator podia criar com o pensamento, seus filhos somente podiam criar quando se uniam para cantar numa melodia inefável e maravilhosa. E assim, desse canto, nasceu tudo que tem forma: as galáxias, sóis, sistemas, planetas e os seres que neles vivem.

Dentre os filhos de Ilúvatur o maior e mais perfeito era Melkor. Este era o que mais se aproximava de seu pai em poder. A ele Ilúvatur dera parte de sua capacidade de criar. Esta, porém, para ser perfeita, deveria inserir-se no canto dos demais Ainur.

Durante muito tempo Melkor participou do canto da criação com seus irmãos e irmãs, porém, aos poucos, começou a nutrir em segredo um desejo egoísta de fazer criações próprias. Esse desejo cresceu muito lentamente e durante muitíssimo tempo ainda lhe era imperceptível e desconhecido.

O desejo sempre foi a raiz de toda maldade e perversão. Todo delito insignificante ou monstruoso tem sua origem no desejo. Logo, com Malkor não foi diferente. Dia chegou que o egoísmo de Malkor tornou-se demasiado grande para conter-se nele mesmo e, em segredo, começou a fazer sua própria obra e a criar suas próprias criaturas. 

Na medida em que sua maldade crescia, sua forma se modificava. Sua beleza exterior cedeu espaço para uma figura grotesca. Já as criaturas por ele geradas, tal como ele, saíram disformes e adulteradas. A partir de então o mundo conheceu a fera e a besta, a maldade e a destruição.

E assim ficou registrada para as muitas e muitas gerações futuras a história da primeira queda, fruto da desobediência. Uma desobediência cujas raízes encontram-se na soberba e no orgulho dos grandes seres providos de conhecimento e poder. Desde então a humanidade tem sido testemunha da queda e da desgraça dos poderosos que, acreditando serem o que não são, levam os povos à tirania, ao erro, à fome, à miséria, à guerra e a destruição.

Com Melkor caíram muitos outros. Muitos dos quais nascidos do próprio canto dos Ainur, no início dos tempos, quanto tudo o que hoje existe foi criado. Esses são conhecidos como os Maiar, os semi-deuses, os imortais. Poderosos, reis e senhores dos ventos e brisas, mares e oceanos, dos prados, das montanhas e terras profundas. Eram os filhos diletos dos Ainur, não tão sábios e perfeitos quanto eles, todavia dotados de emoções humanas e, ao mesmo, vontade divina.

A esses, em sua maldade, Melkor tentou seduzir e atrair para seu reino nebuloso. Com promessas falsas e meias verdades, Melkor atraiu a atenção de muitos desses semi-deuses e, dentre eles, um dos mais poderosos a prestar atenção nessas promessas foi Sauron. 

Sauron, como Melkor, também era grande entre seus semelhantes. Dotado de muita inteligência, sabedoria, força, rebeldia e poder, Sauron inicialmente dera ouvidos a Melkor devido à promessa de criar um mundo ainda melhor do que aquele que existia. 

Na época em que Melkor o seduzia com palavras, este ainda não havia perdido sua beleza exterior e, por isso, o encanto de suas palavras, unido à beleza de sua forma material, acabaram por corromper o coração de Sauron.
Naqueles tempos o mal ainda não tinha tomado a proporção de nossos dias. Não era de todo conhecido tanto pelos Ainur quanto pelos Maiar, por isso ainda mais rapidamente fez seu estrago na medida que corrompia muitos corações puros e cheios de nobreza.

Até nossos dias atuais o mal tem se revestido de muitas formas. Raramente ele aparece com a sua verdadeira face, pois a humanidade já tem conhecimento de sua existência. 

Daí a necessidade de ocultar-se atrás de promessas e palavras doces, ideais políticos e religiosos, gritos de liberdade, sentimentos de justiça e honra, e ainda muitas outras sutilezas engendradas para potencializar a maldade oculta em suas múltiplas formas dentro da mente humana.

E Sauron caiu. Caindo, tal como Melkor, perdeu sua bela forma exterior. De todos os servos de Melkor, Sauron foi o que mais se destacou em maldade e perversão. Por isso foi o escolhido para comandar as legiões tenebrosas de Melkor. 

Antes de sua transformação de ser divino em criatura bestial, também conseguiu converter a muitos semi-deuses, elfos e homens, estes dois últimos já nascidos no tempo da queda de Sauron. 

A raça abominável dos “orcs” é fruto da maldade de Sauron, que cruzou, ao longo de suas experiências abomináveis, as raças dos homens e semi-deuses com as bestas dos antigos tempos. 

Enfim, a Terra-Média se viu assolada pela fome, guerra, miséria e destruição, e até hoje, a humanidade lamenta amargamente pela queda daquele ser que era perfeito quando da origem da vida.

Os sábios e magos ainda debatem em seus santuários e templos o que teria sido desse nosso mundo se Melkor, o magnífico, não tivesse caído.

 

PARTE II
Dos Anéis de Poder e os dois Caminhos


A Trilogia do Senhor dos Anéis está toda centrada na história do "Um Anel", o anel forjado na Montanha de Fogo, na Terra das Sombras, único local onde poderia ser destruído.


O "Um Anel" foi forjado por Sauron com o intuito de dominar os muitos anéis de poder criados pelos elfos. Nele Sauron depositou grande parte de sua força de vontade a fim de sobrepujar a força de todos os demais anéis.

Nesta época os elfos haviam criado muitos desses anéis, e praticamente todos eles, ao longo dos séculos, caíram nas mãos de Sauron que os destribuiu entre elfos, homens e anões com a finalidade de torná-los seus escravos e lacaios.

Ocorria que o poder do "Um Anel" era tão grande que quando Sauron o usava, imediatamente tomava conhecimento da localização de todos os demais anéis, dirigindo ocultamente a vontade daqueles que eram seus senhores.

De todos os anéis somente três escaparam da influência de Sauron, e estes foram os anéis chamados Narya, Nenya e Vilya, conhecidos como os anéis do Fogo, da Água e do Ar. Estes foram entregues a sábios que não podiam ser corrompidos pelo poder e pela vontade de Sauron.
Tais anéis foram fundamentais para manter o equilíbrio do poder durante grande parte da Terceira Era, quando o "Um Anel" estava perdido para Sauron.

Galadriel, rainha dos elfos de Lórion, possuía o anel chamado Nenya, o anel de diamante, que conferia grande sabedoria àquele que o usava. A Elrond, senhor de Valfenda, foi dado o anel chamado Vilya, anel da cura, capaz de sarar as feridas do corpo e da alma. Por último, coube a Gandalf, o mago, a tarefa de ser senhor de Narya, o anel do fogo, que teve papel decisivo em sua luta contra as legiões de Sauron.

Todos eles usaram os anéis em segredo e somente ao final da Terceira Era revelaram-se abertamente como senhores de cada um desses anéis.
Não foi por acaso que Tolkien usou os anéis para apresentar a luta entre os poderes das trevas e da luz na Terra Média.

O anel tem sido representado em todas as culturas como o símbolo de encerramento de uma obra de grande poder.

No esoterismo sagrado o anel é a forma simplificada de simbolizar a Grande Obra, ou seja, fim de um ciclo humano e início de um ciclo divino.

É apresentado, normalmente, como uma serpente que traga a sua própria cauda. Pode ser tanto a serpente dos sábios e Hierofantes sagrados, o Caduceu de Mercúrio, ou a serpente que se arrasta sobre o solo, símbolo da decadência e perversão humana.

Ora, existem ciclos de luz e ciclos de trevas. Pode se viver tanto para as trevas quanto para a luz.

Isso também está magnificamente representado no "Senhor dos Anéis", através do duelo entre as forças de Sauron e as forças do Conselho Branco dirigido pelo Meio-Elfo Elrond.
A história da humanidade está repleta de exemplos semelhantes, desde os dias atuais até as batalhas míticas entre trevas e luz, numa época antiqüíssima, porém real.

Desde que ao homem foi dado o livre arbítrio, ele teve a sua frente, em todos os períodos da história, a opção de escolher qual dos dois caminhos seguir: luz ou trevas.
O caminho da escuridão, o caminho mais fácil, sempre foi o mais procurado. Este é o caminho das glórias, do poder, da facilidade, do egoísmo, dos desejos desenfreados e da exacerbação e descontrole dos sentidos.

A humanidade tem se mostrada inclinada para esse caminho.

Desde pequenos somos ensinados a viver a vida tendo como objetivo único a conquista de prestígio, prazer, poder econômico e status social.

Isso deve ser motivo de profunda reflexão.

De onde vêm tais idéias?

De onde nasceram esses valores culturais, políticos, econômicos e sociais que impulsionam, com raras exceções, a todos?

A exemplo dos anões e humanos, corrompidos pelo poder dos anéis, o coração humano tem se mostrado facilmente "corrompível" com o brilho do "ouro" social, sexual e monetário.

Em o Senhor dos Anéis nós conhecemos os Nazgûl ou espectros do Anel. No passado reis e senhores entre os homens, corrompidos pelo "Um Anel" e transformados em sombras, mortos-vivos, escravos da vontade maligna de Sauron.

Tais mortos-vivos continuam a existir até nossos dias atuais.

Acaso não existe ainda hoje uma vontade maligna oculta a manipular o mundo? Muitos têm chamado essa vontade oculta de Anti-Cristo ou Loja Negra.

Porém, também tem sido inegável a presença de um poder a contrabalançar o frágil equilíbrio desta humanidade.

Este poder de luz tem estado presente através dos benditos mestres da Sagrada Loja Branca que, de tempos e tempos, são enviados a esta humanidade, trazendo uma doutrina que ensina o oposto do que normalmente aprendemos nos livros, jornais, televisão, cinema e sociedade como um todo.

Esses seres sagrados sempre foram possuidores de uma doutrina revolucionária para o tempo em que estiveram entre nós. Cada qual, a sua maneira, revolucionou o contexto religioso e espiritual de sua época.

Acaso o bendito Jesus não foi banido e crucificado pelo seu próprio povo?

Sócrates não foi obrigado a tomar veneno por ser acusado de estar "corrompendo" a juventude de sua época?

Francisco de Assim não foi banido de sua própria comunidade, porque a forma de vida que ensinava era muito dura e "impossível" de ser vivida por aqueles que se diziam franciscanos?
Todos esses seres de luz, mensageiros divinos de carne e osso, foram profundos conhecedores dos mistérios da alma humana e, tal qual no Senhor dos Anéis, eram possuidores da sabedoria divina, incorruptíveis e senhores dos poderes da natureza.

Graças a esses homens e mulheres temos o conhecimento da existência de um CAMINHO verdadeiro de Luz que pode ser construído. Um CAMINHO individual e único, metafísico, porém tão real quanto o ar que respiramos.

Esta é a Senda da Iniciação, a Senda da Perfeição.

Por este CAMINHO têm percorrido os Budas, os Santos, os Mestres de Poder, os Mestres de Sabedoria, os Mestres de Compaixão, os Cristificados, os Adeptos, os Anjos do Nirvana, os pequenos e grandes iniciados, as Virgens Sagradas, os Guerreiros da Luz e tantos outros.
A todos esses perfeitíssimos seres nos curvamos e bendizemos dizendo: "Benditos sejam por terem existido!".

É desse CAMINHO e desses seres que queremos falar. É da história deles que queremos compartilhar.

Queremos mostrar ao mundo que é possível percorrer a SENDA que eles percorreram.
Neste momento existem milhares de pessoas que procuram por uma doutrina espiritual revolucionária. É a essas pessoas que nos dirigimos. E é disso que seguiremos falando usando como pano de fundo a obra "O Senhor dos Anéis", que muito pode nos ensinar sobre isso.
Enfim, bendito estudante, digo-te que tu também podes vir a ser portador de um anel de luz sagrado, símbolo da Grande Obra.

Porém, para isso, tal como os grandes sábios e magos do passado, terás que tornar-se amo e senhor de si mesmo.

Só aos puros e santos é dado o poder concebido pela aliança entre Deus e o homem.

Só aos puros e santos é permitido governar os elementos da natureza e os seres que neles vivem.

Só aos puros e santos é permitido usar o Anel da Grande Obra.

 

PARTE III
Os Espectros do Anel


Em toda a história da criação de Arda, o mundo, desde sua origem na Primeira Era, até o fim da Terceira Era, finalizada com a guerra do "Um Anel", encontramos inúmeras criaturas malignas e assustadoras, como balrogs, dragões, orcs e trolls. 

Todas essas bestas sempre foram muito temidas pelos inimigos de Sauron. Porém, certamente, dentre as criaturas criadas pelo Senhor dos Anéis, as que tiveram maior participação na guerra do Anel e, consequentemente, difundiram maior terror entre os homens e elfos, foram os nazgul.


Também conhecidos com o nome de "espectros do anel", os nazgul apavoravam os exércitos inimigos com sua simples aparição. Mesmo os mais bravos guerreiros se encolhiam de terror ao ouvir o grito agudo de um nazgul, capaz de congelar a alma e paralisar os braços daqueles que brandiam espadas. 

Em número de nove, servos fiéis, escravos da vontade de Sauron, os nazgul possuem um grande poder maligno, capaz de dobrar a vontade de um homem com uma simples frase. Além disso, possuem grande força física, ainda que sob os mantos negros que os cobrem, não exista nada mais do que formas opacas e desencarnadas, já que há muito toda carne foi consumida pelo tempo e pela maldade. 

Os nazgul nem sempre foram assim. Houve um tempo em que todos eles eram reis poderosos, nobres senhores de homens e terras. A eles Sauron ofereceu vários anéis e, seduzidos pelas promessas de poder que Sauron fizera, aceitaram usar os anéis. 

No início nada de mal aconteceu visivelmente. O poder que cada um deles tinha aumentou e isso foi usado apenas para governar e liderar homens. 

Porém, com o tempo, a vontade de Sauron, criador e senhor do "Um Anel", dirigia ocultamente a mente e o coração dos reis. Muitos anos se passaram. Centenas e centenas de anos. E assim, de homens nobres e vivos, se transformaram em bestas e fantasmas, espectros, governados unicamente por Sauron, que os usou para espalhar a desgraça entre as nações, dominando e escravizando todas as criaturas vivas sob a luz e sob as trevas.

Através dos espectros do Anel Tolkien nos mostra como a alma humana pode ser escravizada pelo mal a ponto de tornar-se obscura, totalmente vazia de luz ou bondade. Os nazgul, quando humanos, eram homens de valor, cheios de vitalidade e ideais de liberdade, glória e poder. Corrompidos pela maldade, transformaram-se em instrumentos da escuridão. 

Para se compreender bem como homens nobres e justos podem ser corrompidos a ponto de perderem suas almas, temos que estudar os espectros do anel à luz do conhecimento iniciático. 

Todo aquele que caminha pela Senda necessariamente acaba por deparar-se com a escuridão que carrega consigo. Parte de sua alma é luz e parte de sua alma é escuridão. Todo homem já nasce escravo de seus erros passados e traz o peso do karma sobre seus ombros. 

Libertar-se da escravidão é redimir a alma humana, libertando-a de todo erro e todo vício. É levar a luz da consciência a todos os cantos mais obscuros da alma. 

Os nazgul representam a vitória do mal sobre o bem e, em verdade, todo aquele que sucumbe ao poder da escuridão, acaba por tornar-se uma espécie de nazgul. 

Sucumbir a tal poder é tornar-se escravo do mundo e de tudo que nele existe. Ser escravo é deixar de ser senhor de si mesmo para tornar-se servo dos desejos obscuros da mente e perder-se para a o espírito. 
Ser escravo é tornar-se um espectro perante Deus, nada mais do que uma sombra desprovida de divindade. É tornar-se um nazgul do mundo moderno. 

A história do senhor que se torna escravo, do rei que é transformado em nazgul, é a mesma história iniciática do homem que se transforma em servo do seu Guardião do Umbral. 

O Guardião do Umbral é uma criação particular que cada indivíduo humano carrega consigo. É a síntese de toda maldade que o homem criou e alimentou. Todo ser humano, enquanto não se firmar complemente na luz, é em maior ou menor grau escravo de seu próprio Guardião do Umbral. 

Quando o mal toma proporções gigantescas na alma humana, e a pouca luz interior que existia acaba por desaparecer, todo princípio anímico-espiritual que habita o corpo, recipiente da alma, é retirado, restando apenas uma casca vazia que chora, ri, sente, fala, come e vive normalmente, mas que está complemente desprovida de qualquer centelha divina. Aí temos uma nazgul. Nada mais do que um instrumento da maldade que governa ocultamente o mundo. 

O mal é sedutor e por isso encontra na alma humana terreno fértil. Na medida em que nos tornamos fracos espiritualmente, fortalecemos o Guardião do Umbral e, tal como os nazgul são escravizados pela vontade de Sauron, acabamos por ser escravizados pela vontade do Guardião do Umbral. 

O Guardião do Umbral não é uma figura mítica ou fantasiosa. Ele é absolutamente real e vive em nosso universo psicológico, tendo forma, cheiro, gosto, odor e uma "inteligência" própria e pessoal, os quais são visíveis e palpáveis na luz astral. Sua ação sobre o homem é lenta e gradual, pois atua diretamente sobre as fraquezas daquele que o criou. 

O Guardião transforma o homem num espectro, mantendo-o em estado hipnótico. A humanidade, como um todo, é filha do Guardião do Umbral. 

O poder hipnótico do Guardião é tão grande que, ao transformar o homem lentamente em demônio, este não se dará conta dessa transformação. 

Nenhum demônio se crê demônio e os magos negros juram que estão no caminho do bem. No mal, toda maldade sempre tem justificativas aparentemente nobres e sensatas e, para as trevas, os valores estão invertidos, ou seja, a escuridão é luz e a luz é a escuridão. 

Por isso uma mente cheia de obscuridade jamais compreenderá uma mente limpa e um coração puro. A escuridão sempre rechaçará a luz. A agressividade sempre fará escárnio da bondade e a maledicência jamais conseguirá conviver com a pureza e o silêncio.

Assim sendo, aos poucos nos vamos dando conta que os mitos e símbolos arcaicos onde Tolkien foi buscar inspiração para criar a Terra-Média, povoada de homens, elfos e demônios, até hoje ainda têm profundo significado e realidade espiritual. 

Muitos pensam que a era dos titãs terminou. Isso é um engano. Ainda hoje caminham pelas ruas pavimentadas e asfaltas os mesmos monstros de outrora, balrogs, orcs, trolls e outras criaturas tão horrendas que somente podem ser assim vistas quando analisadas dos planos divinos ou internos, através da visão espiritual. 

Felizmente, os deuses e semi-deuses, ou seja, os mestres de perfeição, os anjos do nirvana e os adeptos e iniciados sagrados, não nos abandonaram, e ainda convivem invisivelmente conosco nesse mundo de lutas e guerras, a fim de auxiliar a todos aqueles que buscam trilhar a Senda da perfeição. 

 

PARTE IV
Gandalf, o Branco


De todos os personagens de "O Senhor dos Anéis", para muitos, Gandalf, o mago, é o mais fascinante de todos.
Conhecido por diversos nomes como, por exemplo, Mitrandhir entre os elfos ou Corvo de Tormenta entre alguns povos, Gandalf enfrentou grandes perigos no transcorrer de sua luta por libertar a Terra-Média das garras de Sauron e seus servidores. 


Graças ao êxito nas batalhas em que participou, e graças ainda a sua grande sapiência ao tomar decisões que influenciavam a vida de muitos, deixou de ser conhecido como o mago cinza para tornar-se o grande Mago Branco, chefe de uma Ordem Secreta, cujos primórdios datam da época em que os Valar, deuses sagrados, ainda caminhavam sobre a face da Terra-Média. 

Ao ressurgir da escuridão de Mória, após sua vitória sobre um dos mais terríveis demônios do mundo antigo - o Balrog, Gandalf definitivamente consolidou sua posição de grande e poderoso sábio, quando triunfou na batalha contra as hordas dos orcs da mão branca - Saruman. Esta batalha, por sua vez, não passou ainda de uma preparação para a prova maior a qual Gandalf haveria de ser submetido, ou seja, enfrentar o mais poderoso e temido dos nove espectros do "Um Anel" e liderar homens e elfos numa investida suicida contra Baradur, a fortaleza de Sauron, tendo como única esperança a destruição do "Um Anel" por Frodo.

No decorrer de todos os acontecimentos na Terra-Média, desde o momento em que o "Um Anel" foi descoberto por Bilbo Bolseiro, até a sua destruição nas forjas de Mordor, Galdalf teve participação ativa, por vezes pegando em armas e usando de seus poderes mágicos ou dando conselhos a sábios, guerreiros, reis ou aos simples e humildes Hobbits. 

Certamente, o "Um Anel" jamais alcançaria seu destino final na Montanha da Perdição se Gandalf não tivesse atuado diretamente e decisivamente sobre todos os acontecimentos de seu tempo. 

Sábias foram as palavras de Gandalf à Frodo, quando em Mória, ao dizer-lhe que o homem não tem direito de escolher o destino que lhe toca, mas sim pode escolher como bem ou mau aplicar o tempo que lhe é dado quando em vida. Certamente Gandalf soube aplicar seu tempo sabiamente, usando-o tanto quanto lhe era possível para sobrepujar as dificuldades que o destino lhe reservara.

A busca de Gandalf pela libertação do mal que povoava seu tempo é a mesma busca mitológica que tem sido mostrada através de inúmeras eras e em diferentes lugares. Tal busca tem um significado simbólico e ao mesmo tempo real.

O mito, o símbolo, é a melhor forma de apresentar ao público a existência de um drama, cujas bases mais profundas, falam da existência de uma forma de se viver complemente distinta da forma conhecida pela humanidade. Em outras palavras, o mito do bem contra o mal tão claramente abordado em o "Senhor dos Anéis", apresenta-nos uma filosofia de vida pautada pela busca do saber e da perfeição humana, somente alcançada após muitas tribulações e desventuras. 

Esta filosofia transcendental de vida tem sido chamada de "O CAMINHO", por alguns, "A Senda Iniciática" por outros ou, também, como é conhecido no oriente, "O Fio da Navalha".

Não importando o nome que tenha, e sim sua finalidade, a Senda Iniciática foi criada, assim como a Ordem Sagrada a qual pertence Gandalf, nos primórdios da humanidade pelos anjos e arcanjos sagradíssimos. Sua finalidade foi, e tem sido até hoje, permitir que o homem comum e corrente transforme-se em amo e senhor da natureza e dos seres ocultos que vivem nos elementos, e isso é feito em vida, através da perfeição do verbo, das ações e dos pensamentos, ou seja, tornando-se um verdadeiro MAGO BRANCO.
 
Todavia, a autorealização, isto é, a perfeição em todos os sentidos humanos, não é algo fácil e simples de se conquistar como acabamos de mencionar. 

São lendárias as gigantescas batalhas pelas quais o aspirante ao CAMINHO sagrado deve passar. Por isso, tais relatos de batalhas e provas iniciáticas, chegaram até nós através desses mesmos mitos e símbolos que, ainda que imprecisos, são a única forma de se transmitir as tremendas realidades da guerra interior e exterior que a alma se vê envolvida, quando decide seriamente caminhar pela Senda do Fio da Navalha.

Com Gandalf não é diferente. Ele é o protótipo do verdadeiro iniciado, mago, sábio e guerreiro. Foram inúmeras as provas em que ele se viu envolvido até chegar a seu triunfo final. 

Uma das provas mais duras foi sua luta com o Balrog, donde então conquistou a maturidade de seu poder. A queda de Gandalf, junto com o Balrog nas profundezas de Mória, seu mergulho nas águas escuras e sombrias, a perseguição e a luta dentro da montanha e, finalmente, sua vitória e o estado lamentável em que permanece durante dias e dias até recompor-se, é de um valor simbólico inestimável.

Todos aqueles que verdadeiramente caminham pelas trilhas sagradas da Senda Iniciática, sabem quão duro e profundo são os mergulhos da alma dentro de si mesma em busca de sua redenção. Para se conhecer a luz, necessariamente devemos conhecer as trevas profundas, pois é nela que a luz é forjada. 

Todo episódio acima mencionado, que culmina com a transformação de mago cinza em "Mago Branco", representa fielmente essa etapa da vida do iniciado nos mistérios divinos. 

Jamais houve e nunca haverá um iniciado que não tenha sofrido muito ao vasculhar os profundos e obscuros rios que correm em seu subconsciente e infraconsciente. 

Tal como nas profundas grutas de Mória, todo homem carrega consigo, sem o saber, bestas e demônios há muito tempo forjados por si mesmos. Formas-pensamentos, desejos monstruosos, obsessões, medos, traumas e debilidades humanas cujas existências datam de centenas de vidas. Cada qual tem, em seus mundos internos, seu próprio balrog íntimo e particular, seus orcs, seu Saruman, seu Sauron, etc, e, se um dia não os enfrentar e vencer, estará fadado a terminar sua vida sem conhecer a grandeza da alma humana e os mistérios do Pai Celestial.

As mentes despreparadas tendem a acreditar que os símbolos têm pouca influência na vida das pessoas. Isso é um equívoco grave, já que os símbolos exteriorizam dramas absolutamente reais da vida cotidiana de um iniciado. 
O homem, ao encontrar-se no CAMINHO, ao deparar-se com as monstruosidades que vivem nos subterrâneos de sua mente, sente na carne a influência nefasta do mal sobre si mesmo.

Enquanto a humanidade nasce, se reproduz, trabalha, chora e ri sem conhecer os mecanismos pelos quais são movimentados seus impulsos, seus pensamentos e suas emoções, o iniciado se depara todos os dias com a origem de cada uma de suas ações visíveis ou invisíveis. 

Para manter-se na Senda do Fio da Navalha sem perder a sanidade mental, o iniciado necessariamente travará constantemente batalhas contra esse exército de monstruosidades cujo nome não é outro senão LEGIÃO.

Até mesmo as imagens das lutas, guerras, batalhas e monstros que podem parecer fruto de uma imaginação aguçada, não passam de representações conscientes ou inconscientes de seres que, nos mundos internos, ou na Luz Astral como preferem alguns, ganham forma e se cristalizam numa realidade tremenda. 

Certa vez um estudante, ao encontrar-se desperto nos mundos internos, antes de receber o cálice e a cruz de sua própria iniciação, ouviu de seu iniciador as seguintes palavras: "A iniciação é para poucos, você está preparado?". Nesta ocasião, mal sabia ele quão reais e duras eram as verdades ocultas atrás de uma frase tão pequena, porém de uma profundidade e realidade que só o tempo e a experiência podem dar a conhecer.

O tempo tem comprovado que "A Senda Iniciática", de fato, é para poucos, apesar de estar aberta para todos que aspiram caminhar através de suas trilhas tortuosas e abismos insondáveis. 

Apesar da dificuldade de encontrar e manter-se no CAMINHO, digo-te amigo que lê estas palavras, que mais vale a pena seguir pela Senda estreita da Iniciação do que se perder em meio à multidão de crenças e teorias que não nos levam a lugar algum. 

Aqui vale o lema dos verdadeiros guerreiros: É melhor morrer lutando do que se refugiar na covardia daqueles que temem por suas vidas. 

Na Senda Iniciática, cada pequenino passo que avançamos, transformar-se num passo gigantesco da alma rumo à perfeição e à união com Deus.

Portanto, se tu és um guerreiro e queres lutar por tua alma, reflita que é chegada a hora de conheceres os mistérios da vida e da morte. Dedica-te a conhecer-te e a mudar tua forma de viver.

Não te arrependerás por isso.

PARTE V
A Queda de Saruman


"O poder corrompe". Esta frase tem servido de base para explicar a queda de muitos governantes ao longo da história. Porém, se o poder corrompe, a sede do poder enlouquece. E foi exatamente isso que ocorreu à Saruman, o mago, quando em sua busca pela posse do "Um Anel" acabou por trair a ordem secreta a qual fazia parte, aliando-se à Sauron para destruir toda a Terra-Média.

Saruman, senhor da Torre de Orthanc, fora grande em sabedoria e inteligência. Como chefe de uma ordem secreta, era chamado de "O Branco", posto este que perdeu em sua queda, sendo então substituído por Gandalf.

Os magos chegaram à Terra-Média centenas de anos antes da "Guerra do Anel". Pouco se sabe sobre sua origem, mas o fato é que, ao chegarem, somaram em força e poder para combater a escuridão que se alastrava, antecipando o retorno de Sauron. 

Desde o início Saruman mostrou-se inclinado a estudar as artimanhas do inimigo, devotando principalmente toda sua energia para aprofundar seus estudos na história do "Um Anel".
 
As intenções iniciais de Saruman, ao estudar os poderes do inimigo, eram de fato nobres e verdadeiras. Todavia é perigoso mergulhar muito fundo nas águas obscuras do poder negro, porque desse mergulho profundo podemos jamais retornar, fascinados e iludidos que ficamos pela escuridão. E foi exatamente isso que ocorreu a Saruman.

Muito antes do "Um Anel" ser encontrado por Bilbo, o Conselho Branco, dirigido por Elrond, o Meio-Elfo, reuniu-se para deliberar a cerca da possibilidade do anel reaparecer na Terra-Média. Alguns membros do Conselho, como Galadriel e Gandalf, desejavam iniciar uma busca a fim encontrá-lo e destruí-lo, enfraquecendo assim o poder crescente de Sauron. Na ocasião Saruman se opôs a essa decisão, dizendo que o "Um Anel" há muito havia se perdido para a Terra-Média e que jamais seria encontrado. Na verdade Saruman, já enlouquecido pela sede de poder, alimentava secretamente o desejo e encontrá-lo e possuí-lo. Por fim sua vontade prevaleceu.

A loucura provocou a desgraça total de Saruman. De mago, poderoso e sábio, transformou-se num mendigo desprovido de suas faculdades outrora poderosas, encontrando sua morte, ao final da Guerra do Anel, pelas mãos de um traidor criado e alimentado por ele mesmo, Gríma, também conhecido como Língua de Verme.

A queda de Saruman deve ser motivo de reflexão profunda. Como é possível que um sábio se transforme em traidor? Qual a verdadeira razão oculta atrás de uma queda como a de Saruman?

Pois bem, para se compreender um assunto de tamanha profundidade devemos primeiro buscar suas raízes no passado distante. 

Os livros sagrados da humanidade e os mitos da antiguidade nos falam de um tempo em que os deuses desceram a terra, perdendo seu poder e passando a viver como seres humanos comuns. 

A história de Lúcifer, o anjo caído, é por demais conhecida. 

A bíblia menciona que, no princípio dos tempos, os anjos caíram ao se enamorarem das filhas dos homens, tomando-as como esposas, ainda que tal ato lhes fosse proibido. 

Isso tudo nos mostra como é tênue a linha que divide o bem do mal, a luz da escuridão. Seres que viviam na luz, por alguma razão, passam a habitar as trevas. 

Se os anjos caem, o que será então do simples ser humano cheio de debilidades! Qual é a razão disso e o que devemos fazer para encontrar a luz e nela permanecer?

Parece incrível, mais o princípio que leva um Saruman à loucura, um anjo à queda ou um deus a perder seus poderes é o mesmo que leva um simples ser humano a transformar-se numa besta completamente voltada para o mal. 
Num primeiro momento somos tentados a pensar que a desobediência é causa original da queda de homens ou anjos. Foi a desobediência de Lúcifer que o levou a se precipitar no abismo. Foi a desobediência dos anjos que, ao tomarem esposas, os levou à queda total. 

Porém, à luz de um estudo mais profundo, podemos compreender que, muito antes do ato de desobedecer, algo mais profundo, sutil e delicado já havia ocorrido no psiquismo desses seres. 

A desobediência nada mais é do que a exteriorização de um delito que tem atingido a muitíssimos homens, anjos e deuses: a soberba. 

Ao crer-se especial, poderoso, melhor, mais sábio, inteligente, santo ou puro, perde-se a noção da insignificância dentro da escala que vai do micro ao macrocosmos. 

Por mais poderoso ou grandioso que seja um ser, dentro da escala humana ou divina, ele não passa de uma fagulha insignificante perante o Grande Arquiteto do Universo. 

Ao crer-se especial, nasce a soberba que precipita, em sua forma mais sutil e invisível, inúmeros delitos, tais como o desprezo, a intolerância, a prepotência, a vaidade e outros, até que, por fim, vem a desobediência como fruto estragado de uma árvore já apodrecida. Vem a queda e a perda de todos os poderes conquistados ao longo de anos, séculos ou milênios.

De todos os erros cometidos o que se paga mais caro é o erro da soberba. A soberba levou Saruman à desgraça. A soberba transforma um anjo em demônio, um sábio em idiota, um rei em escravo, um santo em pervertido e um homem em animal.

Essa armadilha continuará levando milhões de seres humanos ao abismo, pois ela tem sido uma marca constante na história da humanidade. Desde os mais pequeninos aos mais poderosos, a soberba infiltra-se sorrateiramente nos sonhos e nas fantasias de cada homem ou mulher. 

Seu poder de precipitar o homem na escuridão é ainda mais forte entre aqueles que dirigem os destinos de outros, seja pela política, pela ciência ou religião. Nesta última, por sua vez, a soberba encontra espaço para refinar-se em justificativas divinas ou doutrinárias, iludindo-se e fazendo iludir através de ideais aparentemente nobres e sublimes. 

A verdadeira sabedoria, a qual certamente Saruman não era possuidor, jamais poderá ser encontrada em qualquer ciência humana, disciplina religiosa ou esotérica. A sabedoria não pode ser vendida em livros ou ensinada em palavras. A verdadeira sabedoria deve ser forjada através da disciplina do fogo e da morte mística. Seus ingredientes são a mais perfeita castidade, uma humildade à flor da pele, a pureza de pensamentos e a bondade no seu grau mais sublime, a compaixão.

Não mais Saruman!

Que a pureza seja nosso estandarte, a castidade o escudo e a compaixão nossa espada.