A sociedade e o amadurecimento
Homens fortes criam tempos fáceis, tempos fáceis criam homens fracos, homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis criam homens fortes.
Sobreviver sempre foi questão de adaptar-se ao meio em que se vive, moldando seus comportamentos e postura de acordo com o ambiente, de modo a dar a melhor resposta aos desafios impostos pela vida.
A sociedade moderna está cada vez mais dificultando o amadurecimento das pessoas, tornando-as cada vez mais frágeis, imaturas, fracas e transferindo toda a responsabilidade por adaptar-se ao ambiente e aos outros, não a si próprios. “O mundo ou os outros que mudem para que eu seja feliz”
A vida humana nunca foi um mar de rosas em que as coisas são fáceis e todos conseguem aquilo que desejam, pelo contrário, sempre foi cruel e aqueles que amadureciam mais cedo, não no sentido fisiológico apenas, mas que conseguiam enxergar a essência real das coisas sobre sua aparência e comportavam-se do modo adequado, prevaleciam, sobreviviam e obtinham sucesso em suas vidas, mesmo que dentro do limite de possibilidades que sua condição inicial lhe permitia. Refiro-me à maturidade intelectual e espiritual.
O desenvolvimento tecnológico, o conforto trazido pelo capitalismo e ascensão social e econômica dos Baby Boomers e da geração X, pais dos Millenials, fizeram com que os indivíduos “adultos” contemporâneos fossem acostumados a ter tudo aquilo que desejavam entregado de “mão beijada” pelos pais, sem contrapartida de um merecimento real. De outro lado, há uma parcela da população que não teve a mesma sorte, porém, nas redes sociais, comparam-se àqueles outros que, assim como eles, nunca fizeram nada excepcional para merecer algo, e frustram-se ao ver que alguns tão não merecedores quanto eles, tem uma vida boa e eles não.
Essa realidade os cerceou de vivenciar experiências decisivas que elevariam seus níveis de consciência da realidade. A grande verdade é que independente da origem, a maioria dos “adultos” atuais não mereceram nada, porém, exigem, vociferando aos 4 ventos, que a vida é injusta e que a sociedade tem que lhes dar isso ou aquilo.
No trabalho, querem virar diretores aos 23 anos sem nunca terem entregado valor econômico real. Intelectualmente, querem ser vistos como inteligentes sem nunca terem estudado de verdade, e que o mundo os ache espertos apenas pelo fato de problematizar e criticar tudo sem ao menos dar soluções realistas ou compreender o contexto em que certas coisas foram criadas. Esteticamente, querem ser vistos como bonitos sem se cuidar e que o mundo ache belo mulheres com pelos no sovaco ou homens com cara de boneca. Através destas novas convenções forçadas, tentam esconder as próprias vulnerabilidades, tentando chocar a sociedade, fingindo que não ligam por não atingirem padrões reais e objetivos de excelência em certos atributos, com uma reação infantil de “Eu não queria mesmo” - remetendo à época em que seus pais lhe diziam: “Garoto, se isso você não terá aquilo” e, afrontoso, como qualquer criança, soerguendo os ombrinhos e com biquinho emburrado, respondia: “nem num queria mesmo, nem num queria mesmo ”.
A questão é que existe um “pacto de mediocridade” entre os imaturos. Praticamente vivem um determinismo social em que,entre eles, estes comportamentos são reconhecidos reciprocamente como forma de autoaceitação.Sendo reforçados e impostos uns pelos outros, todos devem ser iguais. Acontece uma castração da alma pela falta de motivação em buscar experiências e desafios reais que os desenvolvam. Não se esforçam nos estudos para serem inteligentes, não desafiam o senso comum imposto com pensamentos autônomos, não se cuidam para se tornarem verdadeiramente mais belos, não buscam os elevados padrões morais construídos por séculos para comportar-se bem, não buscam o caminho da dor ou o mais difícil nem se for para crescer, fogem e não enfrentam as consequências dos próprios erros e nunca se responsabilizam pelos próprios atos. Vivem uma vida utilitarista baseada na minimização da dor e maximização do prazer. Se fizer algo fora do imposto pelos iguais, logo é expurgada do círculo social. Há um tribunal social que impõe a imaturidade contemporânea. Fogem de tudo que dá trabalho e possa expor fraquezas e trazer dor.
Os músculos crescem sob a dor e esforço dos exercícios físicos. A mente, cresce com o árduo estudo e trabalho cerebral. A alma, cresce com as experiências e dificuldades vencidas na vida. Essa prisão social é fruto da insegurança afetiva do indivíduo, ele precisa se sentir aceito e amado sendo que sua própria autopercepção e autoafirmação depende dos outros. Os adultos contemporâneos têm dificuldades em se enxergarem como unidades autônomas. No geral, são seres amorfos levados conforme a massa, como em catarse coletiva, agem e comportam-se em bando, diluindo suas existências, responsabilidades e culpas em um agrupamento reforçando características e pensamentos homogêneos não porque analisaram e concluíram serem corretos, mas por desejarem ser aceitos pelo grupo.
A maturidade é alcançada quando a pessoa se liberta dessa prisão espiritual e passa a pensar, agir e comportar-se de modo individual, ajustando seu comportamento à sociabilidade, porém, não para agradar terceiros, mas por ter consciência de seus próprios pensamentos, valores e atitudes – buscando ser melhor em si mesmo. A ideia disseminada atualmente é nivelar todos por baixo, assim, ninguém fica triste, ninguém se sente obrigado a se auto responsabilizar pelo próprio fracasso ou, a ter que agir sozinho para resolver problemas (Ninguém solta a mão de ninguém).
A culpa e a responsabilidade são diluídas na sociedade e a solução também é dada pelos outros. Afinal, quando crianças, sempre tudo fora dado e a ação era externa para a solução de algum problema. Por que agora teria que ser diferente? É muito mais fácil impor à sociedade que se dobre às birras destes adolescentes e mudem as regras do jogo para eles se sentirem bem. É como por rodinhas eternas na bicicleta ou deixar que eles ganhem no vídeo game. Não se pode pedir que se esforcem para andar sem rodinhas ou que treinem para vencerem no jogo, que lutem para alcançar a máxima excelência nos diferentes aspectos da vida dentro de suas limitações pessoais. Mais difícil que convencer alguém imaturo disso é fazê-los aceitar que há limites personalíssimos:
nem todos serão bonitos, nem todos serão inteligentes, nem todos serão bem sucedidos, nem todos são legais, nem todos são eficientes, nem todos são iguais.
Em cada atributo da vida, há sim pessoas melhores e piores. Claro que sempre podemos melhorar, mas há limites. Uma pessoa pode ser naturalmente mais bonita, outra mais inteligente, outra mais forte, outra mais sociável, haverá aqueles naturalmente bons em tudo e aqueles bons em nada. Há uma distribuição estatística dos atributos na sociedade que podem ser potencializados com esforço e treino, dentro de um limite natural que é intrínseco à cada constituição natural de um ser humano. Isso precisa ser aceito. Sem fantasias ou sentimentalismo, sejamos pragmáticos e realistas. É questão de maturidade compreender isso.
O ser adulto entende que a realidade é objetiva em diversos aspectos e que não adianta fingir uma utopia ou enganar-se. Você nunca será maduro se não reconhecer suas fraquezas e pontos fortes, se pôr em testes enfrentando o medo de perceber-se incapaz de ser tudo aquilo que idealizou. A pessoa madura entende que ela deve ser a melhor versão daquilo que suas limitações permitem, isso evita muita frustração e infelicidade. Sua vida sempre será difícil se não aceitar isso pois buscará algo que não existe. Uma alma e uma mente iludida são prejudiciais à sobrevivência. Desculpe, não vou mentir para você falando que tudo é possível, basta sonhar. Para com isso. Você pode sim melhorar em tudo, mas seja realista e pragmático. Trabalhe seus pontos fracos até um mínimo aceitável e reforce seus pontos positivos para diferenciar-se e resolver seus problemas. Isso vai levar a um direcionamento e alocação racional dos seus esforços e trará resultados reais na vida, tenha certeza, alcançará o máximo que sua capacidade permitir, desde que tenha maturidade para saber do que você é capaz. Se você não nasceu com a genética de um COT, esforce-se para ter um físico minimamente aceitável e concentre seus esforços em outra atividade que tenha maior propensão natural. Sem choro.
Em épocas passadas os pais não tinham condições de dar aos filhos o luxo de ficar em casa sem produzir nada. Desde que o indivíduo tivesse capacidade de colaborar, logo largava os brinquedos e passava a ter utilidade na sociedade. Hoje em dia, “homens” de 30 anos ou mais ainda se preocupam com seus bonequinhos, vídeo games e super-heróis. Veja, não há nenhum problema que você tenha, esporadicamente, um lazer que envolva alguma dessas atividades. A questão se torna complexa quando a definição e a postura padrão do indivíduo gira em torno do universo infantil da fantasia.
Atualmente, observa-se que muitos indivíduos estendem a infância à idade adulta, se vestindo com roupas de adolescente, passando a maior parte de seu tempo jogando vídeo game, assistindo desenhos animados e ainda, decorando seu espaço pessoal com referência a esses games e desenhos. São indivíduos que claramente não conseguiram deixar a infância e não passaram pelo ritual de “matar o menino e nascer o homem”.
Percebo este comportamento como uma tentativa de fugir da realidade adulta e isolar-se em um ambiente infantilizado para lembrar-se do conforto da época em que não havia responsabilidades e a vida era uma fantasia. É necessário crescer e aceitar o mundo adulto, jogue seu Picaxu de pelúcia fora e troque por livros, armas e outros hobbies com resultados efetivos e úteis à vida real. Veja, sempre é tempo, mude aos poucos, experimente portar-se e interessar-se por coisas de adulto, abandone certos hábitos e comportamentos, a experiência vivida é a única capaz de moldar sua alma jovem para maturidade, trazendo consigo todos seus benefícios e novas angústias.
O comportamento infantilizado atualmente é reforçado pelo meio cultural e até mesmo nas relações de trabalho. A modernidade corporativa trazida por empresas como o Google e outras gigantes da tecnologia valoriza e incentiva perfis profissionais “descolados” que se comportam, vestem-se e tem atitudes de garotos de 16 anos e 4 meses. Existe um equilíbrio dinâmico entre o meio externo e o interior de cada indivíduo. Ao mesmo tempo que se modifica o ambiente ao se externalizar sua essência por meio de atitudes, roupas, gestos e comportamentos, também se modifica o interior do indivíduo ao forçá-lo a adotar padrões de vestimenta linguagem e ações específicas. Por exemplo, a autopercepção profissional ao trocar o terno e a todo seu significado por uma camisetinha “cool” de jovem hipster e uma bermudinha de praia. Acredita mesmo que a pessoa terá os mesmos comportamentos e postura nas duas situações?
O cenário se torna um problema de sobrevivência civilizacional quando envolve as crias desses indivíduos. Filhos não respeitam os pais por enxergá-los como iguais e “amiguinhos”, crescem sem referências de como ser maduro, afinal, os pais vestem-se como eles, brincam com os mesmos joguinhos, gostam das mesmas coisas, não há uma diferenciação de papéis nem de postura entre crianças e adultos. Ora, se são todos iguais, os jovens sentem-se com o mesmo direito que os pais de fazer tudo o que eles fazem. Arrogam-se da capacidade de decidir e gerir a sociedade, ditar comportamentos e definir o certo e o errado. Não há mais autoridade nem respeito a experiência nem a hierarquia.
Crianças com pais infantilizados nunca enxergaram autoridade em casa e agora refletem esse comportamento na rua, criticando, questionando e destruindo tudo que foi construído socialmente em séculos de civilização, sem o mínimo de experiência de vida para um julgamento pragmático do que é, de fato, bom ou ruim. No fundo, no seio de sua imaturidade, acreditam piamente que estão fazendo o que é certo e possível.
Para sobreviver ao mundo real, você precisa se comportar como adulto. Auto responsabilizar-se por suas escolhas. Vestir-se e apresentar-se como homem, tanto na sua postura, na sua fala e, principalmente, nas suas atitudes. Nem sempre é fácil abandonar a juventude, é um processo dolorido que nem todas as pessoas passam, alguns se mantém nessa etapa a vida toda.
É preciso decidir crescer, mudar de ambiente, de amigos, de hábitos, de postura. Existem coisas que você fazia anos atrás, que não precisam fazer sentido atualmente. Não seja refém do que você foi no passado, da sua juventude. Direcione sua vida entendendo que as coisas mudam e que isso é bom. Se por algum motivo suas preferências, comportamentos, ideias e perspectivas de vida são as mesmas de 5, 10,15 ou 20 anos atrás , tenho más notícias para você.
É importante destacar também que se você está inserido em um determinado grupo social, será medido de acordo com os padrões dele, por isso, escolha permanecer ambientes que agreguem ao seu crescimento, com pessoas que escolheram amadurecer. Claro, não é algo simples, principalmente em relações sedimentadas em que você exercia um determinado papel social ou comportamento imaturo. Seu comportamento passado legitima pretensões futuras e permite respostas automatizadas em certas situações, de acordo com a sua natureza. Porém, isto exige uma limitação. Se um indivíduo que ocupa um papel passa a agir repetidamente fora dele, os outros ficam confusos e pode haver uma reação não positiva. A mudança deve ser feita com cautela para não destruir relações que você já tenha e não queria perdê-las. Com o tempo, tudo se torna normal, devendo o fator tempo ser levado em consideração através de alinhamento constante de expectativas. O novo papel social é implicitamente absorvido aos poucos e com o tempo, uma nova gama de expectativas em relação à seu comportamento será criada na sociedade e então será aceito. Caso exista resistência invencível por certos grupos ou pessoas, ignore-os ou afaste-se, mas não aceite retroceder para atender expectativas passadas sobre papéis que um dia exerceu, mas já superou e não deseja mais exercer.
Mais portas se abrem àquele reconhecido e visto na sociedade como maduro e adulto. Como sempre digo: a sobrevivência é muito além da integridade física, há sim questões psicológicas, espirituais, econômicas e sociais, as quais, em sua maioria, perpassam pelo reconhecimento social de ser um adulto maduro. Porte-se como adulto e terá melhores empregos, um círculo social e pessoas melhores perto de si, mais conhecimento, mais preparo psicológico e mental para enfrentar os reveses da vida com capacidade para resolvê-los. Buscar a maturidade é desenvolver o discernimento entre o certo e errado, entre a postura adequada e inadequada, a útil e a inútil, o comportamento sadio e o doentio. Você o fará acumulando experiências, suas ou alheias, e ponderando os resultados que produziram.
Seus erros do passado e a observação de falhas externas podem guiar seu conhecimento sobre as atitudes que deve ter. Você apenas conseguirá redefinir sua vida e assumir um novo papel, se for capaz de olhar retroativamente toda sua vida, suas atitudes, preferências, escolhas e comportamentos com uma visão crítica e sem autopiedade, a partir daí, remodelar suas condutas de modo a cumprir o papel socialmente esperado de um adulto. Da repetição e da consolidação destas tendências comportamentais, surge o homem maduro.
Uma ressalva: não significa que você tenha que ser uma pessoa seca, dura e fria - agir assim também é imaturo. Cada situação exige uma flexibilidade de conduta e a maturidade te mostrará os limites de como agir. Você tem que entender como se portar em cada cenário que atua, como pai,mãe, filho, amigo, colega, cônjuge, chefe, subordinado, etc.
É totalmente aceitável que nesta fase de mudança tenha-se uma crise de consciência ao avaliar sua vida como um todo, auto responsabilizando-se pelas consequências de suas escolhas, tenham sido elas boas ou ruins. A crise evolutiva também apresenta o desafio da não compreensão por parte daqueles que estão em seu convívio habitual e ainda necessitam suprir necessidades autônomas de consciências menos maduras. Elas nunca poderão te entender se ainda estiverem em uma fase diferente - não force, oriente e siga seu caminho. Por exemplo, quando decidir que não faz mais sentido uma vida vazia de bebedeira e baladas.
somente homens maduros tem a capacidade de bem guiar uma comunidade e liderar outras pessoas com destreza. O risco de termos “ADULescentes” no comando é altíssimo. É como imaginar o Felipe Neto como presidente do Brasil. Estamos em uma época em que há uma clara batalha entre a juventude imatura, idealista, barulhenta e estridente e adultos maduros e realistas disputando o protagonismo da sociedade. De que lado você quer estar? Em que sociedade acredita que terá mais chances de sobreviver?
Se quisermos viver em uma sociedade segura, devemos assegurar que os influenciadores e os tomadores de decisão sejam maduros e realistas disputando o protagonismo da sociedade. De que lado você quer estar? Em que sociedade acredita que terá mais chances de sobreviver?
Se quisermos viver em uma sociedade segura, devemos assegurar que os influenciadores e os tomadores de decisão sejam maduros e que o povo tenha consciência da diferença entre pensamentos fantasiosos e os realistas. A melhor maneira de se sobreviver é não atravessar crises ou situações caóticas. Se conseguimos construir uma sociedade em que as pessoas tomem decisões e comportem-se de maneira adulta, teremos uma menor probabilidade de desembocar graves cenários extremos em que precisemos lutar pela nossa vida e liberdade.