Índice
Sobrevivencialismo e a questão nuclear
A questão nuclear desperta fascínio e medo nos homens desde que Einstein informou o governo americano a respeito do projeto nuclear alemão e iniciou-se o projeto Manhattan nos EUA. Desde então a humanidade enfrenta o dilema nuclear: Desenvolver o uso pacífico e correr o risco do uso militar ou abdicar-se totalmente desta tecnologia.
Na estratégia nacional de inteligência brasileira (ENINT), as atividades ilegais envolvendo armas de destruição em massa, bens de uso dual e tecnologias sensíveis são identificadas como uma ameaça ao estado. O desenvolvimento destas tecnologias atinge não somente países produtores e detentores de artefatos químicos, biológicos e nucleares, mas também todos aqueles que renunciaram a seus programas em suas estratégias de defesa.
Recentemente, vimos um aumento do risco nuclear com a produção de mini ogivas pela Coréia do Norte, a ameaça russa de retaliação atômica a qualquer míssil em seu território e a suspeita de ataque ao Líbano em Beirute.
Esse risco à segurança internacional vem não somente dos estados nacionais, uma vez que atores não-estatais podem também apossar-se de tecnologias de destruição em massa. As redes criminosas e terroristas buscam ter acesso a essa tecnologia, na maioria das vezes, de forma regular, porém dissimulada Para tanto, utilizam-se, entre outros meios, de empresas ou instituições de fachada criadas legalmente ao redor do mundo para tentar burlar controles executados por órgãos de inteligência e de repressão em conformidade com o ordenamento nacional e compromissos internacionais assumidos pelo país.
Neste caso, o trabalho da inteligência é identificar essas redes, grupos, empresas ou instituições, seus modus operandi e objetivos ao tentar ter acesso à bens de uso dual e tecnologias sensíveis, assim como os detentores destes conhecimentos.
A ameaça atinge a todos os países, uma vez que a simples existência de armas de destruição em massa (Química, biológica ou nuclear) é, em si mesma, uma fonte potencial de proliferação e um risco à paz mundial e aos países que abdicaram da opção de possuir as armas para sua defesa.
A tecnologia nuclear pode ser utilizada como fonte de energia devido aos baixos custos da energia atômica, com 5% de enriquecimento de urânio, constrói-se uma usina nuclear; enriquecendo o urânio a 20%, pode-se utilizar na área da saúde em procedimentos como quimioterapia, iodoterapia e raios X; Na agricultura, utiliza-se para esterilização de alimentos e dessanilização da água como feito por Israel. Entretanto, com 90% de enriquecimento, a mesma tecnologia que é utilizada pacificamente pode ser operada para fins bélicos com o desenvolvimento de artefatos da tríade nuclear:
• Os ICBMS (Mísseis balísticos intercontinentais terrestres);
• Bombardeiros estratégicos;
• E os SLBMS (Mísseis balísticos lançados por submarinos).
Assim, a humanidade deve renunciar aos potenciais benefícios do progresso científico ou assumir os riscos e ônus de permitir o desenvolvimento nuclear? Uma outra questão que se coloca é: A existência de armas nucleares aumenta ou diminui a probabilidade de um conflito de grandes proporções?
Por um lado, há quem defenda que por mais terrível e triste que as explosões atômicas na segunda guerra tenham sido, o poder dissuasório da bomba encurtou o conflito e evitou milhões de outras mortes diante de uma não rendição japonesa (Acreditem, eles não queriam se render.). Já há também quem afirme que independente do que viria depois, é inaceitável o uso da bomba atômica.
Pois bem, o fato é que foi utilizada e desde então o medo de um apocalipse nuclear manteve-se presente durante todo o período posterior, tentando mitigar os riscos, cria-se, juntamente com a ONU, a United Nations Atomic Energy Comission com o objetivo de posicionar-se frente ao dilema nuclear.
Apesar dos EUA serem os únicos detentores da tecnologia na época, sugeriam seu banimento . Entretanto, devido à lógica bipolar de disputa de poder econômico, político, ideológico e militar soviético, o ceticismo falou mais alto e a proposta foi um fracasso.
Com uma densa rede de espionagem, a KGB consegue os projetos de construção da bomba e em 1949 a URSS já faz seus primeiros testes nucleares e inicia-se uma corrida armamentista. Em 1952 os EUA desenvolvem a Bomba de fusão de hidrogênio com poder 4000 vezes maior que a bomba de Hiroshima e logo em 1953, a URSS também alcança o feito.
Com isso, instaura-se a lógica MAD (Muttually assured destruction) que entra como um fator de dissuasão e evita o first strike, uma vez que era assegurado que ao atacar-se um país, o outro responderia com mesmo poder de fogo e a destruição mútua era certa. A famosa paz armada pelo equilíbrio de poder. A mesma discussão pode ser feita na questão do desarmamento civil uma vez que o cálculo racional para se atacar alguém passa pelo risco e a probabilidade de um contra-ataque à altura e sabemos que o lado criminoso nunca estará desarmado.
Desde 1953, as nações buscam discussões multilaterais para mitigar os riscos nucleares sem renunciar aos benefícios da tecnologia. Vários programas e instituições foram criadas como o “Atoms for peace”, o sistema de salvaguardas, a AIEA (Agência internacional de energia atômica), “Partial test ban treaty” e em 1968 criou-se o principal tratado relacionado ao tema: O TNP (Tratado de não proliferação nuclear) com o intuito de evitar que novos países adquirissem a tecnologia após 1 de janeiro de 1967 (Coincidentemente os membros do conselho de segurança da ONU – EUA,China,UK,Fra e URSS) e que os possuidores não ampliassem seus arsenais.
Este tratado gerou uma grande rejeição dos países terceiro-mundistas, principalmente Brasil e Índia, que acusavam o tratado de ser uma manobra de “congelamento de poder” e “desarmamento dos desarmados”.
O Governo brasileiro de Costa e Silva não assina o tratado por avaliar como injusto e assimétrico e inicia um projeto nuclear “clandestino” que se encerra na era Collor com o fechamento do poço para testes nucleares na Serra do Cachimbo (Brasil só ratifica o tratado em 1998 com a política externa de FHC de renovação de credenciais no plano internacional).
O primeiro pilar do tratado, e maior interesse das potências nucleares, é a “não proliferação”. Na dimensão horizontal, objetiva-se não aumentar o número de países com a tecnologia e na vertical, não aumentar nem diminuir poder destrutivo das ogivas e não aumentar a quantidade dos arsenais daqueles que já possuem. Um aparente contra senso é a questão de não reduzir o poder destrutivo, a razão disto é que se os estados possuíssem apenas armas mais leves, o cálculo estratégico da dissuasão seria modificado e aumentaria a probabilidade de um first strike pela redução do risco de “MAD”. A mesma lógica se aplicou à proibição do projeto “Star Wars” em que os EUA de Reagan criariam um escudo antimísseis no espaço, alterando também o equilíbrio de poder e aumentando a chance de um first strike (Em regra, ataca-se quando se há uma vantagem relativa).
O segundo pilar do tratado, de grande interesse ao Brasil, é artigo 4° do TNP: Incentivo ao uso pacífico da tecnologia com auditorias e visitas da AIEA aos programas nucleares.E o terceiro pilar, também foco para Brasil, é o artigo 6° do TNP: O desarmamento dos países nuclearizados. Devido à preocupação brasileira com a questão da crise dos mísseis de Cuba em 1962, o Brasil sempre priorizou estes dois últimos pilares em seus discursos internacionais visando uma redução dos riscos de crises nucleares no planeta.
O controle das tecnologias de uso dual deve dar-se de modo a preservar o direito ao desenvolvimento científico e tecnológico para fins pacíficos, de acordo com os instrumentos internacionais incorporados ao ordenamento jurídico nacional. Diversos esforços na redução e limitação dos arsenais foram tentados ao longo da história como o strategic arms limitation talks (SALT I e II) e o Strategic arms reduction treaty (START I e II) e o New Start proposto por Obama visando reduzir os arsenais de Rússia e EUA para 1550 ogivas. Porém, a grande verdade é que observando-se o panorama atual da questão, fica claro que grande parte dos objetivos falharam e temos sim um potencial nuclear considerável no planeta.
Houve uma proliferação vertical com o desenvolvimento quantitativo e qualitativo cada vez maior com o investimento de recursos financeiros, humanos e tecnológicos no desenvolvimento de novos armamentos nucleares. Também se observa uma proliferação horizontal, além dos países originais do TNP, hoje sabe-se que Israel, Índia, Paquistão e Coréia do Norte possuem ogivas nucleares e desconfia-se do programa nuclear do Irã.
Fica claro que apesar dos esforços políticos, a lógica realista do instituto da guerra nas relações de poder sempre prevalece e a desconfiança entre os estados sempre predomina. Estamos atualmente vivendo um momento geopolítico tenso com várias ameaças entre estados, grupos terroristas e atores paraestatais buscando poder além de provocações e disputas entre grandes potências militares. Deste modo, o risco de conflitos é real e ainda existem ogivas nucleares e tecnologia bélica suficientes para causar um grande apocalipse global causando milhões de mortes diretas e um ambiente pós apocalíptico de inverno nuclear que exigiria uma preparação e recursos específicos para aumentar as chances de sobrevivência de qualquer ser humano que por ventura tiver restado na terra após uma guerra de grandes proporções.
Assim como em Hiroshima e Nagasaki durante a segunda guerra mundial, o horror e a destruição podem chegar aos civis sendo a mais aterrorizante e eficiente forma de se forçar uma rendição inimiga. Por mais que o Direito Internacional e organizações supranacionais se esforcem para regular a guerra, controlar os estoques atômicos, positivar normas de Direito Humanitário e utilizem-se do Tribunal Penal Internacional para julgar crimes contra a humanidade, sabemos que no mundo real da guerra não há lei, e que esta nunca será utilizada contra o vencedor.
Quais seriam os efeitos reais e qual a dinâmica de uma explosão nuclear? A bomba atômica é uma combinação de praticamente todos os desastres naturais possíveis ao mesmo tempo e dependendo da sua posição relativa em relação ao núcleo da explosão, não há como se proteger.
Assim que uma bomba nuclear explode, no tempo de um milissegundo, uma bola de plasma mais quente que o sol, aparece e cresce em uma bola de fogo de 2 quilômetros de diâmetro, dentro deste perímetro, todas as pessoas, prédios, carros, árvores, tudo seria totalmente evaporado instantaneamente, como uma gota d’agua pingando em uma panela quente. Um observador distante deste núcleo que observasse a cena, ficaria cego. O pulso térmico produzido pelo calor da explosão queimaria tudo num raio de 13Km, todo plástico, madeira, tecido, cabelo e pele dentro desta área de 530Km2 entraria em combustão.
Alguns segundos depois, o calor cria uma violenta expansão de ar, mais rápida que o som, criando ventos mais fortes que furacões e tornados, destruindo qualquer infraestrutura dentro do raio de 1Km do centro da exposão. No raio de 7,5Km, os prédios e construções seriam demolidas, postos de combustíveis começariam a explodir e um grande incêndio começaria dentro deste raio.
Uma nuvem em formato de cogumelo feito de poeira e cinzas sobre por quilômetros e lança uma gigantesca sombra sobre a cidade. Esta região quente, puxa o ar frio ao redor da cidade provocando ventos devastadores e alimentando as chamas com mais oxigênio transformando os ventos em tempestades de fogo destruindo tudo que encontram pela frente. A 21 Km dali a onda de choque continua sua destruição quebrando janelas e espalhando estilhaços de vidro por onde passa.
Por mais que o governo se esforce para proteger e cuidar dos aterrorizados e confusos sobreviventes, haverá centenas de milhares ou até mesmo milhões de pessoas com sérias lesões, lacerações, ossos quebrados e graves queimaduras que causarão a morte dos sobreviventes. Inúmeras pessoas estarão presas em construções, como se tivesse havido um terremoto e várias cegas pelo clarão, surdas pela onda de choque e totalmente sem condições de buscar um abrigo. Grande parte dos socorristas e agentes públicos estariam mortos ou machucados, hospitais e toda infraestrutura que poderia abrigar e atender a população, estaria destruída.
Para estar relativamente seguro em uma situação destas, apenas em um Bunker. Até mesmo as pessoas que estiverem no metrô não estariam totalmente a salvo. Dependendo do tipo de bomba, local e do clima da cidade, uma terrível chuva de cinzas e poeira radioativa cobriria a tudo e a todos. Começa a fase do silencioso e maligno terror radioativo. A cada respiro, mais contaminação se leva aos pulmões e as pessoas que receberem uma alta dose de radiação irão morrer.
Não haveria ajuda por algumas horas ou até mesmo dias dependendo da localização, a civilização não funciona sem uma infraestrutura adequada e o caos tomaria conta da vida dos sobreviventes. Fome, sede, comunicações cortadas, desabrigados, falta de energia e toda falta de recursos possível estaria presente. Estradas e rua estariam bloqueadas dificultando o acesso de suprimentos por parte de agentes externos que, mesmo conseguindo adentrar a área, estariam expostos à radiação. As pessoas estariam por conta própria e incapacitadas.
Os danos de uma explosão nuclear não terminam quando os incêndios acabam e a fumaça desaparece. Os hospitais da cidade vizinha estarão despreparados para um desastre nesta escala, as igrejas, escolas, e outras estruturas terão de ser adaptadas como abrigos e hospitais de campanha terão de ser montados às pressas, porém, nenhum local estará preparado para o volume e infra necessária para atender todas as vítimas. Mesmo após alguns anos, os efeitos da radiação ainda serão sentidos e muitas continuariam morrendo devido ao efeito da radiação no corpo humano.
Precisamos ser realistas, não há nenhuma resposta possível para uma catástrofe desta magnitude, não há como ajudar imediatamente pessoas atingidas por um ataque nuclear. Não é como um furacão, incêndio, terremoto ou até mesmo um acidente nuclear. É tudo de uma vez e em uma escala ainda maior que os outros desastres isolados. Sejamos claros, nenhuma nação está preparada para lidar com isso.
Estamos falando de apenas uma bomba nuclear “média” 200.000 ton TNT de potência. Se uma guerra nuclear acontecesse e as armas nucleares fossem utilizadas indiscriminadamente, além de todos os impactos já descritos, viveríamos, além das precipitações radioativas, um “inverno nuclear” em que a nuvem de poeira radioativa impediria a passagem da luz do sol o que derrubaria a temperatura global drasticamente, reduzindo a fotossíntese e a produção de oxigênio, inviabilizando a vida no planeta. Nos próximos posts falaremos desse cenário e o que deve ser feito para aumentar as chances de sobrevivência.
Para muitos, a ameaça de uma guerra nuclear é algo longínquo, pois a ideia de uma destruição mútua assegurada e a paz armada preveniriam o ataque nuclear. Entretanto, nem sempre a humanidade seguiu a lógica ou a racionalidade, pelo contrário, somos muito mais imprevisíveis que parece e temos uma tendência à ignorar este fato para nos sentir seguros. O risco de uma catástrofe de proporções inimagináveis é real.
A única forma de estar protegido em um cenário de conflito nuclear seria estar dentro de um Bunker ou em um submarino bem abaixo da superfície, sobrevivendo enquanto durarem os suprimentos de ai então se aventurar no exterior em busca de mais recursos. Ao sair de um bunker, os sobreviventes encontrariam um mundo radioativo, carbonizado e frio, dificilmente a espécie humana sobreviveria.
Depois de alguns milhões de anos, o planeta se regenaria e, se alguma vida inteligente habitar o planeta, durante seus estudos arqueológicos, provavelmente compreenderá o que aconteceu ao encontrarem uma camada fina e enriquecida de urânio e outros elementos oriundos de seu decaimento cobrindo todo planeta.
A solução mais lógica seria a eliminação de todas as armas nucleares, entretanto, por razões óbvias, não é algo tão simples assim. Segue a mesma lógica do desarmamento civil da população, para que uma nação se desarmaria se ela não confia que a contraparte faria o mesmo? A nação desarmada se tornaria presa fácil para a nuclearizada e seria claramente rendida e dominada. Por diversas vezes, as nações tentaram firmar acordos internacionais para a redução e não proliferação de armas nucleares, assim como inúmeros acordos internacionais, infelizmente, a eficácia no mundo real não reflete o mundo jurídico e político.
Atualmente, existem cerca de 15.000 armas nucleares no planeta, sendo que EUA e Rússia possuem cerca de 7000 cada enquanto França, China, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coréia do Norte dividem as outras 1000. Em nosso planeta, temos aproximadamente 4500 cidades ou áreas urbanas com pelo menos 100.000 habitantes. Como vimos anteriormente, uma bomba nuclear destrói tudo que encontra em um raio de 13Km o que corresponde à 530Km2, para terem uma ideia, a cidade de Sâo Paulo possui 1530Km2, ou seja, com 3 bombas atômicas, poderíamos destruir praticamente qualquer cidade no planeta. Fazendo essa aproximação, precisaríamos de 4500 x 3 = 13500 bombas para destruir todas as cidades do planeta.
O mundo pós apocalíptico
Neste cenário consideraremos exclusivamente os efeitos de explosões de bombas de fusão nuclear de átomos de hidrogênio na troposfera, ou seja, acima do solo, mas sem tocá-lo. A consequência disto é que este tipo de explosão não resultará em partículas contaminadas em suspensão no ar portanto, não teremos um inverno nuclear tão rigoroso como ocorreria em uma explosão na crosta terrestre.
Imagine que em certo momento da história, inicia-se uma guerra nuclear e todo o arsenal dos beligerantes e que os alvos tenham sido atingidos com sucesso, a população reduzida em mais de 80% e as grandes cidades e infraestruturas críticas dos estados tenham sido completamente devastadas. A humanidade estaria arrasada, mas não extinta nem totalmente derrotada. O instinto de sobrevivência da raça humana e os conhecimentos adquiridos pelos seguidores do Sobrevivencialismo Vertical aumentariam a chance de alguns poucos e garantiriam a perpetuação da nossa espécie.
Com a explosão na troposfera, o inverno nuclear seria 90% menor que o de uma explosão na superfície terrestre, porém, o perigo persiste especialmente na contaminação de fontes de água, estoques de alimentos e outros itens que estejam no perímetro de alcance da radiação.
Deste modo, faz-se imperativo o uso de um equipamento que detecte a radiação para evitar que seja ingerido alimentos e água com partículas alfa, o que resultaria no desenvolvimento de sérios riscos de saúde para o organismo. Sem um contador Geiger, o melhor é nem chegar perto dos alimentos e da água uma vez que a morte por contaminação radioativa é muito mais dolorosa que outros tipos de falecimento, é um suicídio. Dentro de um raio de 480Km da explosão, as pessoas nem devem considerar caminhar dentro da zona, não há nem a necessidade de se utilizar contadores geiger, uma vez que radioisótopos de meia vida muito longa como Sr-90 e Cs-137 (Estrôncio 90 e Césio 137 ) irão perdurar por aproximadamente 5 anos após a explosão emitindo partículas alfa, beta e gama durante seu decaimento radioativo. O ideal é sempre partir do pré suposto que está tudo contaminado dentro deste raio e fazer a medição de qualquer recurso que for utilizado à partir deste perímetro.
Provavelmente os sobreviventes da explosão serão pessoas que vivem fora do perímetro dos grandes centros urbanos ou possuem estruturas subterrâneas para protegerem-se da bola de fogo. Durante a primeira semana após o armagedon a preocupação será estar fora do campo de contaminação radioativa, buscar abrigo e recursos. Os sobreviventes devem avaliar as condições meteorológicas da região para verificar a necessidade evacuação caso os ventos soprem na direção de suas localizações. Por exemplo, se você vive em uma zona de alta pressão atmosférica e a explosão ocorreu em uma região de baixa pressão, o ideal é não sair de sua localização, agora se for o contrário, o melhor é evacuar imediatamente para uma zona de alta pressão para fugir do arraste de partículas contaminadas para sua região.
Dependendo do grau de contaminação radioativa diferentes efeitos podem ser causados no corpo humano. Ao se absorver 1 Gray de radiação em um período inferior à uma semana, o corpo não apresentará sintomas imediatos, porém provavelmente desenvolverá leucemia entre 10 e 30 anos após a exposição e mutações genéticas irreversíveis.
Uma exposição de 5 grays causa uma severa intoxicação radioativa causando náuseas, perda de cabelo, lesões na pele e as células interrompem as mitoses sendo incapazes de substituir as células velhas e dentro de alguns dias o organismo entra em colapso. Uma exposição maior que 50 Grays causa uma morte instantânea com parada do sistema nervoso central, lembrando que a medicina moderna não encontrou tratamentos para contaminação radioativa e não há nada que se possa fazer após a exposição, a melhor estratégia é evitar o contato. Deste modo, as populações dos grandes centros urbanos teriam menos de uma semana para se deslocarem dos locais próximos às explosões e buscariam o interior como refúgio iniciando uma migração em massa, é aí que começa o problema.
Como as populações rurais ou de centros urbanos não afetados reagirão às migrações de grandes contingentes populacionais de desabrigados e sobreviventes de regiões afetadas? Apesar de inicialmente a colaboração e solidariedade humana possam existir, pouco depois a realidade se mostrará nua e crua, o conflito por território e recursos será inevitável. Sobreviver nestes primeiros momentos após uma explosão é uma tarefa muito complexa e apenas aqueles que já tinham um local e um plano de fuga bem estruturado sobreviverão. Em termos bem simples, vai sobreviver quem estiver longe e já abrigado da explosão e que possuam, além de um EDC básico, baterias e geradores de energia, alimentos e acesso à água limpa, os equipamentos necessários para a situação específica ( Vestimentas de proteção radiológica , iodeto de potássio, máscaras de gás e os filtros corretos, etc. ).
Além das partículas carregadas de radiação, um outro efeito da explosão atômica é o pulso eletromagnético que causaria danos nos modernos equipamentos eletrônicos da sociedade moderna e inclusive na rede de distribuição elétrica causando um apagão de proporções devastadoras. As consequências e a forma de lidar com essa situação já foi tratada em posts anteriores, dê uma conferida para entender como se preparar para esta situação.
Sem um planejamento adequado, os sobreviventes não saberão para onde ir nem o que fazer em uma situação extrema, por isso é muito importante que tudo seja pensado com antecedência e em um momento como o atual em que ainda temos tempo para este tipo de reflexão. Não só um plano com uma localidade para se refugiar como as rotas, planos de backup e rotas alternativas, a premissa é sempre a de que o plano inicial pode ser inviável então deve-se ter múltiplas opções de localização e múltiplas rotas de evacuação. As localizações devem ser preferencialmente escolhidas em locais com adequado suprimento de água e distantes de centros urbanos e industriais além de serem defensáveis.
Além de todos os riscos físicos da explosão, o maior perigo para os sobreviventes serão os outros sobreviventes. Uma certeza que podem ter é que neste tipo de evento, uma vez que você se assente em algum lugar, outras pessoas virão até você, alguns amigavelmente e outros para tomá-lo de você. Esteja sempre preparado para defender o que você tem, saiba usar armas de fogo, armadilhas e construir defesas e barricadas. Tenha comida estocada e conheça métodos de purificação de água. É bom reforçar que neste momento, o mundo virá uma terra sem lei e sem uma arma de fogo, você não sobreviverá muito tempo. Aqueles que em tempos normais já estão dispostos a cometer crimes para vantagem própria, ficarão ainda mais violentos e aqueles que até então nunca se imaginaram fazendo isso, no momento em que suas reservas de água e comida se esvaírem, no momento do desespero e sem o império da lei, irão transformar-se em versões nunca imaginadas. Aqui é muito importante entender os perfis comportamentais e escolher muito bem que são e quais os arquétipos que deixará entrar em seu grupo. Por vezes, uma decisão mal tomada por solidariedade pode custar a vida de toda sua equipe. Temos que ser realistas, não dá para ajudar todo mundo.
Dias depois do evento, a maioria das lojas serão saqueadas pelos sobreviventes e aqueles sem recursos ficarão à própria sorte e terão de enfrentar todo tipo de perigos desde contaminação até pessoas lutando uns contra os outros pela sua sobrevivência e também aprofundaremos sobre isto em posts subsequentes.
Após uma semana da explosão até o final do primeiro ano, entramos na segunda fase da sobrevivência pós-apocalíptica. À partir deste momento as pessoas tentarão comunicar-se entre os diferentes grupos e formar pequenas comunidades para reconstruir a sociedade e aqui teremos diversos conflitos da nova política entre os agrupamentos e viveremos tempos tribais (Quero explorar estes aspectos sociológicos em posts específicos). Neste momento, crucial o desenvolvimento de técnicas de cultivo agrícola e pecuária de modo a criar comunidades autônomas e autossuficientes em termos de suprimentos alimentares.
Com as comunidades, novos sistemas jurídicos serão estabelecidos em cada território e as relações serão complexas e caóticas, a falta de equipamentos modernos e eletricidades exigirá criatividade e colocará à prova a inventividade humana para superar os desafios deste novo mundo. As pessoas encontrarão novos papéis sociais e a sociedade será totalmente diferente do que conhecemos hoje.
Após um tempo, mapeados os territórios e novas fronteiras radioativas, as comunidades estabelecidas reinicializarão comércio, moeda e diplomacia entre os diferentes agrupamentos de modo a reestabelecer uma sociedade com novos desafios e relações que até então mal podemos imaginar, um mundo novo se coloca à nossa frente. Além do contato com o exterior, as comunidades começarão a reconstruir escolas, infraestruturas e todas as demais instituições que os humanos precisam para organizar sua vida e alcançar uma existência fora do estado natural hobbesiano. Será uma oportunidade de reconstruir do zero uma sociedade, aprender com os erros de passado e quem sabe, criar uma comunidade humana melhor do que a que existiu anteriormente.