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Fisiologia do perigo ToC
Fisiologia do perigo
Fisiologia do perigo
O fenômeno da agressão entre seres humanos é um tema que pode ser epistemologicamente analisado sob a luz da sociologia, biologia, antropologia e psicologia. Charles Darwin propôs em seu livro “A expressão das emoções no homem e nos animais” que
as respostas comportamentais dos homens são causadas por reações fisiológicas similares às dos outros animais.
Ao iniciar-se uma conduta hostil e agressiva à integridade física de alguém, o indivíduo ativa uma série de reações bioquímicas como às de um predador durante a caçada. Antes mesmo da execução material, há um processo cognitivo, uma premeditação da ação. O agressor diante de um cenário potencialmente benéfico à utilização da violência, sopesa os riscos e, caso inferiores aos ganhos, opta pela agressão.
Durante esta fase, há um processo de excitação emocional em que, como resposta, o sistema endócrino libera diversos hormônios condicionando o corpo para a experiência material da imaginação induzindo diversas alterações físicas, psíquicas e comportamentais.
A noradrenalina e dopamina liberadas aciona um sistema de hiper vigilância no agressor, que passa a monitorar continuamente os arredores movimentando a cabeça horizontalmente por cima dos ombros, varrendo o ambiente, assegurando a ausência de ameaças à empreitada. Simultaneamente, as pupilas dilatam e o olhar é fixado na presa, certificando a vulnerabilidade da vítima. Ambos movimentos ocorrem seguidamente, intercalados.
Durante o processo, com a liberação da adrenalina, ocorre uma alteração cardiovascular e elevação da pressão arterial com maior fluxo sanguíneo para a musculatura, preparando a ação motora. Neste momento, observa-se inquietação nas mãos, movimentos de esfregar uma na outra, de arrumar a camiseta ou de colocar as mãos no bolso “escondendo as intenções “. Um outro sinal é o que se chama de “turtle effect”, com a intenção de esconder-se e reduzir a insegurança, o agressor tensiona os ombros junto com os demais efeitos descritos.
O último sinal de um agressor é a “proxêmica”, um dissimulado encurtamento da distância entre este e a vítima, geralmente camuflando as intenções ao perguntar as horas ou puxar algum assunto despretensioso enquanto se aproxima à uma distância inferior à socialmente aceita que é cerca de 1,5m entre as pessoas, a chamada zona social.
O cortisol elevado altera o estado de cognição e em caso de violência física, é este hormônio que induz à selvageria física e ao instinto de matar.
Como dica,
sempre evite a aproximação de estranhos, nunca dê as costas para possíveis ameaças e sempre pense em tempo, distância e forma de reagir em qualquer ambiente que esteja.
Muitas pessoas associam à linguagem corporal do agressor uma face expressiva de raiva, entretanto, nem sempre se mostrará assim antes de iniciar o ataque. Claro, após iniciado um confronto, a face do agressor se altera às características básicas de um rosto raivoso tais como dentes serrados, sobrancelhas tensas e testa franzida. Quando isso acontece, provavelmente, a agressão já foi iniciada.
Ao deparar-se com uma ameaça, os animais geralmente apresentam 3 reações defensivas padrões: Uma passiva que é o “congelamento”, e duas ativas, a luta e fuga.
Estas reações são fruto de desencadeamentos hormonais e atividade do sistema nervoso central frente à situação de stress. O “congelamento” é uma reação natural da presa associada ao medo, protagonizando o domínio parassimpático do sistema nervoso.
Já a luta ou a fuga são reações posteriores, de autopreservação, resultado da sobreposição do sistema nervoso simpático. Sempre há uma ação concomitante dos nervos simpáticos e parassimpáticos, sendo que a resposta é resultado de qual esteja dominando no momento.
Durante a dominância das enervações parassimpáticas, acontece uma bradicardia (Redução dos batimentos), inibição da vocalização e redução da temperatura corporal. Por outro lado, quando o sistema simpático se sobrepõe, ocorre a liberação da adrenalina e noradrenalina causando inibição digestiva, supressão dos receptores sensoriais para a dor, dilatação das pupilas, aceleração do ritmo cardiorrespiratório e pressão arterial irrigando os músculos dando condições para uma vigorosa ação motora pelo aumento do tônus muscular.
O que poucos sabem é que naturalmente existe uma cascata fisiológica de defesa e que todo indivíduo ameaçado passa por pelo menos duas dessas três fases.
O “congelamento” é sempre a primeira resposta, sempre haverá um “tempo de reação”, variando a intensidade de pessoa para pessoa. Nesse caso, o sistema parassimpático, com a liberação da acetilcolina, “paralisa” o sistema motor, aumentando sensibilidade de percepção, absorção e processamento da situação para que o indivíduo avalie se a ameaça é real, o tamanho da ameaça e quais as possibilidades para que possa tomar uma decisão de como reagir frente ao perigo.
Isto é extremamente importante principalmente em profissões de alto risco, por exemplo, policiais que têm milésimos de segundo para processar o cenário, avaliar, preparar para ação e decidir se atiram ou não frente a um potencial agressor. Qualquer deslize pode ser fatal.
Estes períodos de transição entre o congelamento passivo e a luta ou fuga ativos, dependem também de condicionantes pessoais. Pessoas mais inseguras, ansiosas ou não habituadas a determinada ameaça podem permanecer mais tempo no estágio de congelamento ao passo que pessoas mais agressivas e acostumadas com aquele risco possuem tempos de congelamento reduzidos e tendência a entrar no estado de luta ou fuga mais rapidamente. Caso avalie ser capaz de enfrentar, luta. Caso contrário, foge (Por exemplo, um agressor armado com uma faca.).
Esta é a razão pela qual militares são treinados para encarar com normalidade uma agressão, de modo a condicionar seu sistema nervoso a acelerar o processo de transição entre o domínio parassimpático para o simpático. Entretanto, mesmo o mais treinado dos militares ainda apresentará um momento de congelamento como resposta ao medo frente a determinado estímulo.
Geralmente a paralização é ativada em situações de ameaça média, em que o indivíduo passa a um estado de imobilidade atenta, tentando “não ser detectado” e uma maior percepção do ambiente para calcular seus movimentos. Fatores externos como a distância da ameaça, existência de rotas de fuga e grau de perigo também afetam o tempo de resposta. Ameaças distantes provocam tempos maiores de congelamento pois o indivíduo tem mais tempo para analisar o cenário, caso existam rotas de fuga, o tempo de congelamento é menor e há uma tendência em ativar o sistema de fuga. Quando a ameaça está próxima, a reação ativa é acionada mais rapidamente, geralmente, de luta.
Reforço que isso é uma regra geral, cada indivíduo possui um sistema endócrino diferente e existe uma complexa série de interações no eixo HPA hipotálamo-pituitária-adrenal em que as quantidades de dopamina, serotonina, progesterona, testosterona, estrógeno, oxitocina e vasopressina presentes em cada um variam.
Além disso, existem outros fatores que influenciam no tempo e intensidade das respostas às ameaças como a personalidade, grau de ansiedade e experiência individual Ficou evidente que esta fase de congelamento não é apenas uma reação passiva e sim um estágio necessário para a ativação motora, aumento da percepção e preparação para a reação ativa. Deste modo, para não sermos presas fáceis, temos que encurtar este tempo de reação já antecipando certos momentos e tomando algumas precauções para não sermos pegos de surpresa pelo medo quando alguma ameaça real acontecer.
Tenha consciência do ambiente em que se encontra, análise todos os riscos do local: Há risco de incêndio? Onde estão as saídas de emergência? Há pessoas suspeitas? A criminalidade no local é alta? Você consegue enxergar todo o espaço de onde está ou há pontos cegos? Está de costas para algum risco (Por exemplo, eu só me sento com as costas na parede e com a visão da porta de qualquer ambiente que eu esteja). Qual a consequência de suas atitudes naquele local? Caso seja atacado, quais são suas capacidades motoras? Imagine os movimentos, possíveis ataques, como iria reagir etc. Já antecipe a etapa de congelamento fisiológico para que seu corpo já esteja preparado para uma reação vigora, seja ela de fuga ou de luta (vai depender de uma série de fatores qual das duas a mais indicada). Você é páreo para os potenciais oponentes? Há necessidade real de lutar?
Além de todos estes questionamentos, para sobreviver, precisamos reduzir as probabilidades de sermos presas, para isso, precisamos alterar o cálculo de custo benefício para um potencial agressor.
Malhe para ter um físico intimidatório, tenha uma postura dominante (Cabeça erguida, cara fechada, olhar reto e peito aberto) e atenta (olhando ao redor, sem fone de ouvido ou mexendo no celular). Mostre-se um potencial perigo a quem porventura queira te abordar, não se apresente como vulnerável, o agressor sempre tentará correr o menor risco possível.
Se necessário, dissimule. Se uma moto suspeita se aproxima, coloque uma mão nas costas como se fosse retirar uma arma, faça de tudo para aumentar a sensação de custo para o agressor e dissuadi-lo. Entretanto, seja realista, compreenda sua real situação e vulnerabilidade, sem vaidades.
Seja discreto e não exponha objetos de valor, ao mostrar seus pertences. O agressor sempre buscará a maior recompensa possível. Escolha bem o ambiente em que se encontra e adapte seu comportamento e discrição conforme o cenário, faça isso conscientemente.
Depois de levar em conta todos estes fatores, você pode ter fugido com sucesso de uma situação de risco ou se encontrar sob ataque, momento em que é crucial o conhecimento técnico e o preparo físico para proteger a si ou a outrem.Estamos em uma cidade e nela, assim como na selva, há presas e predadores. Saiba reconhecer os predadores e compreenda todo mecanismo de reação para não ser uma presa.