” Cinzento
Eu ando pelas ruas e ninguém repara ou presta atenção em mim. Não sou interessante, não tenho roupas ou aparelhos caros, não estou na moda. Não corro, não ando rápido demais ou lento demais, eu acompanho o fluxo, eu me misturo.
Sou neutro demais para ser um alvo, comum demais para ser suspeito, simples demais pra ser uma ameaça. Eu não quero ser lembrado por características marcantes, minhas roupas não tem cor, e se tem elas se misturam e se fundem, meu cabelo desaparece sob o boné… que boné?.
Não sou educado demais, nem seco demais. Não sou charmoso, viril, amistoso ou duro. Quem interage comigo não tem motivos para ser hostil ou doce, educado ou não, simplesmente sou imune ao pré julgamento.
Eu sempre vou parecer fraco, covarde, burro, feio, velho, não o suficiente para gerar antipatia, compaixão ou simpatia, mas o suficiente para ser esquecido rápido.
Eu sou a sombra que faz o caminho certo, que por acaso está bem posicionado, que surgiu do nada, que percebeu o que iria acontecer, que sumiu sem deixar rastros. Eu observo.
Ninguém conhece minha dureza, meus limites, meus equipamentos, minhas armas ou minha capacidade real, não é possível saber minha história, minha tática ou minha estratégia. Você nunca saberá porque, talvez só quando e onde, se eu quiser que saiba.
Eu nunca farei parte da sua estratégia, você faz parte da minha, e só vai perceber isso tarde demais.
Eu sou cinzento, de alma. Eu posso ser o que eu quiser, afinal eu não existo.” Não há manual que ensine ser um homem cinzento, não há regras, textos, aulas ou meios genéricos que se apliquem a todos. Ser um cinzento está além de dogmas, está além da simples camuflagem, transpôs o conceito de mimetismo visual e não é só mais um método de segurança, as diretrizes do homem cinza são um sistema vivo, complexo e mutável que visa dissimular ou ocultar habilidades, capacidades, intenções, estratégias e ações dos agentes operadores."