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A Lógica do Cisne Negro - ToC
A Lógica do Cisne Negro
Por dentro do Cisne Negro
A Lógica do Cisne Negro
Na história, como observa Paul Veyne, alguns instantes carregam consequências gigantescas e irreversíveis. Esses instantes são chamados de “acontecimentos”. Foi justamente sob esse raciocínio que em 2001, foi criada por Nassim Taleb a teoria do Cisne Negro, que nada tem a ver com a dança ou com o famoso filme. Segundo esta teoria, há certos eventos imprevisíveis e capazes de mudar o destino de um ser humano, de uma sociedade ou de uma geração inteira.
Entretanto, o que caracteriza de fato este evento é a sua imprevisibilidade e o auto grau de impacto quando ele ocorre. Antes da descoberta da Austrália, no início do século XVI, os homens estavam convencidos que na natureza existiam apenas cisnes de plumagem branca, e isso se apresentava como uma crença inquestionável, confirmada por evidências empíricas observadas por gerações e gerações de indivíduos. Entretanto, ao desembarcar na Austrália, os homens deparam-se surpresos com cisnes de plumagem negra. Certamente, isso deve ter despertado especial interesse em ornitólogos, mas não é aí que reside a importância desta história, pelo menos não para esse breve ensaio. Este fato, simplesmente ilustra uma limitação severa no aprendizado por meio de observações e experiências, expondo a fragilidade do conhecimento e das certezas do homem.
A descoberta do cisne negro é um desses casos em que apenas uma observação pode invalidar uma afirmação originada por outras milhares de fontes, como por exemplo: todos os cisnes são brancos. Será sobre essa metáfora lógico-filosófica que Nassim Taleb irá apresentar ao mundo sua teoria sobre A Lógica do Cisne Negro.
Quando o Cisne Negro Ataca. Aqui, pergunto ao leitor quais as semelhanças mais latentes entre a queda do muro de Berlim e os ataques de 11 de setembro de 2001?
Vamos à questão... Na primeira semana de novembro do ano de 1989, pouca gente era capaz de prever os acontecimentos que estavam por vir. No dia 09 daquele mês, uma série de manifestações acabou levando ao chão o muro de Berlim, abrindo caminho para a unificação alemã, para a democratização dos países do Leste Europeu e a consequente desintegração da União Soviética que pôs fim a mais de 40 anos de Guerra Fria e impactou profundamente a ordem global subsequente.
Assim como nos primeiros dias de novembro de 1989, na noite do dia 10/09/2001 pouca gente poderia sequer imaginar o que aconteceria na manhã seguinte. A saber, os ataques daquela manhã de terça-feira de 11/09 tiraram a vida de 3.234 pessoas de 90 nacionalidades.
Assim como em 1989, ficamos novamente desnorteados perante os acontecimentos. Para a pesquisadora Érica Resende, os atentados possibilitaram a implantação da Doutrina Bush no início do século XXI, promovida pela “guerra ao terror”, impactando e remoldando o sistema ora erguido. Em linhas gerais, estes dois eventos tem em comum, duas características básicas do Cisne Negro, seu baixo nível de previsibilidade e seu alto grau de impacto.
Por dentro do Cisne Negro
Cisne Negro é um evento composto por três atributos.
Primeiro: o Cisne Negro é um Outlier, pois está fora das expectativas comuns, posto que nada no passado pareceu apontar convincentemente para sua possibilidade de ocorrer. Afinal, quem seria capaz de imaginar que a nação mais poderosa no mundo, que venceu duas guerras mundiais sem jamais ter sido atacada em seu território, poderia ser tão violentamente atacada em 2001?
A segunda característica, é que ele exerce um impacto extremo.
E em terceiro lugar, apesar de ser Outlier, a natureza humana faz com que desenvolvamos explicações para sua ocorrência após o evento, fazendo-o parecer explicável e previsível. Por exemplo, após a queda do muro de Berlim, pareceu evidente a eminente desintegração da União Soviética. Olhando em retrospectiva, ou seja, após o acontecimento, fica mais fácil observar os sinais de que algo poderia acontecer, porém, sem o fato em sim para iluminar estas “pistas”, sua compreensão previa é praticamente impossível.
Assim, o Cisne Negro se resume ao terceto: raridade, impacto e previsibilidade retrospectiva. Para o autor, um pequeno número de Cisnes Negros explica quase tudo no mundo e desde o Plistoceno, há cerca de dez mil anos, os efeitos do Cisne Negro vem aumentando. Para Taled se acelerou na Revolução Industrial.
Tomando a combinação de baixa previsibilidade e grande impacto transformador, o Cisne Negro é por si só um quebra cabeças.
Entretanto, é necessário observar que junto ao aumento de incidência do Cisne Negro, já observada pelo autor, esse vem adquirindo cada vez mais vigor em impacto sobre a sociedade, posto que com a globalização, as sociedades estão cada vez mais conectadas e interdependentes.
Vivemos em um tempo onde uma guerra em um país distante não é mais simplesmente uma guerra em um país distante, ou uma crise financeira em um país não é apenas uma crise financeira daquele país. Assim, o Cisne Negro pode atacar em qualquer lugar e impactar um universo cada vez maior.
Dessa forma, a constante eminência do Cisne Negro força os limites do saber humano.
Tomando que o Cisne Negro nos ataca justamente no desconhecido, tomar ciência que existe algo que simplesmente “não sabemos que não sabemos”, é fundamental para cruzar a fronteira do conhecimento. Porém, essa fronteira só pode ser cruzada quando há, de fato, interesse em cruzá-la, ou seja, é preciso pesquisar para fugir as armadilhas do senso comum e das limitadas experiências empíricas.