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O Memex de Vannevar Bush – 1945

Em 1945, o cientista Vannevar Bush publicou o artigo "As We May Think", onde propôs o conceito do Memex — uma máquina teórica projetada para expandir a memória humana. O Memex seria uma espécie de mesa equipada com telas, botões e leitores de microfilme, permitindo ao usuário armazenar, organizar e acessar informações de forma não linear, por meio de associações. Essa ideia antecipava o conceito de hipertexto, décadas antes de o termo ser criado por Ted Nelson.

O funcionamento do Memex se baseava na criação de trilhas associativas entre documentos, fotos e anotações, simulando o modo como o cérebro humano conecta ideias. Essas trilhas poderiam ser compartilhadas com outras pessoas, criando uma rede de conhecimento interligado. Bush acreditava que, com o avanço da tecnologia, seria possível construir sistemas que ajudassem os seres humanos a lidar com o excesso de informação e a pensar de forma mais eficiente.

O Memex nunca foi construído, mas influenciou profundamente pioneiros da computação como Douglas Engelbart (criador do mouse e do sistema NLS) e Tim Berners-Lee (criador da World Wide Web). A frase marcante de Bush resume sua visão: “O ser humano não pensa por índices, mas por associação.”

O legado do Memex vive até hoje em navegadores, links, wikis e em toda a estrutura da web moderna.

Link para o artigo As We May Think https://www.theatlantic.com/past/docs/unbound/flashbks/computer/bushf.htm

Ted Nelson Cria o Termo Hypertext – 1965

1965, quando Ted Nelson criou o termo “Hypertext” — um momento fundamental na história da computação e da informação.

Quem é Ted Nelson?

  • Theodor Holm Nelson, conhecido como Ted Nelson, é um pensador visionário da computação.
  • Em 1965, enquanto estudava na Harvard University, ele cunhou o termo “hypertext” em seu artigo Complex Information Processing: A File Structure for the Complex, the Changing and the Indeterminate.
  • Ele também criou o termo “hypermedia”, que inclui texto, imagem, som e vídeo interligados.

O que significa “Hypertext”?

  • Hypertext é um sistema de organização de informação onde os dados são conectados por links não lineares.
  • Ao contrário de livros, que seguem uma sequência fixa, o hipertexto permite navegar entre ideias por associação — como o cérebro humano pensa.
  • Ted Nelson definiu hipertexto como:
“Texto que se ramifica e permite escolhas de leitura.”

Projeto Xanadu

  • Em paralelo à criação do termo, Ted Nelson começou a desenvolver o Projeto Xanadu, o primeiro sistema de hipertexto proposto.
  • Xanadu visava criar uma rede universal de documentos interconectados, com controle de versão, autoria e links bidirecionais.
  • Embora nunca tenha sido concluído como imaginado, o projeto influenciou diretamente o surgimento da World Wide Web.

Legado

  • Nelson foi um crítico da web moderna, pois ela implementou hipertexto de forma simplificada (com links unidirecionais e sem controle de versão).
  • Mesmo assim, sua visão inspirou pioneiros como Douglas Engelbart e Tim Berners-Lee.
  • O conceito de hipertexto é a base do HTML, dos navegadores, dos wikis, e até das redes sociais.

Link para o artigo Complex Information Processing: A File Structure for the Complex, the Changing and the Indeterminate https://archive.org/details/nelson-file-structure

Como o Projeto Xanadu Funcionaria na Prática

1. Links bidirecionais

  • Diferente da web atual, onde os links são unidirecionais (você vai de A para B, mas B não sabe que A o linkou), no Xanadu os links seriam bidirecionais.
  • Isso significa que toda página saberia quem está apontando para ela, permitindo rastrear referências, citações e contextos.

2. Cópia com atribuição automática

  • Ao copiar um trecho de texto, o sistema preservaria a origem automaticamente.
  • Cada citação ou trecho copiado manteria um link direto para o documento original, com controle de autoria e versão.
  • Isso evitaria plágio e garantiria transparência intelectual.

3. Documentos imutáveis e versionados

  • Os documentos seriam permanentes e versionados: você poderia ver qualquer versão anterior de um texto.
  • Nenhuma informação seria perdida ou sobrescrita — tudo seria rastreável.

4. Sobreposição de conteúdo

  • Você poderia ver múltiplos documentos ao mesmo tempo, com trechos sobrepostos ou conectados visualmente.
  • Exemplo: ler um artigo e ver, lado a lado, todas as críticas ou análises feitas sobre ele.

5. Estrutura universal de dados

  • Todo conteúdo seria armazenado em um sistema distribuído, com identificadores únicos e links persistentes.
  • Não haveria “404 Not Found” — os documentos nunca desapareceriam.

Exemplo prático

Imagine que você está lendo um artigo sobre o Memex. No Xanadu, você poderia:

  • Clicar em qualquer trecho e ver quem mais citou aquele exato parágrafo.
  • Copiar uma frase para seu próprio texto e o sistema automaticamente incluiria a fonte original.
  • Ver todas as versões anteriores daquele artigo, desde o primeiro rascunho.
  • Comparar lado a lado o artigo original e uma crítica feita por outro autor.

Por que não virou realidade?

  • A proposta era extremamente ambiciosa para a tecnologia da época.
  • A web de Tim Berners-Lee, lançada em 1991, era mais simples e fácil de implementar, mesmo com limitações.
  • Ted Nelson seguiu trabalhando no Xanadu por décadas, mas o projeto nunca foi concluído como imaginado.

Andy van Dam e Equipe Desenvolvem o HES e FRESS – 1967

Em 1967, Andy van Dam e sua equipe na Brown University criaram o Hypertext Editing System (HES), seguido pelo FRESS — dois dos primeiros sistemas de hipertexto da história, que influenciaram diretamente a forma como navegamos e organizamos informação digital hoje.

Hypertext Editing System (HES) – 1967

  • Desenvolvido por Andy van Dam, Ted Nelson e estudantes da Brown University.
  • Rodava no IBM System/360 Model 50, usando o terminal gráfico IBM 2250, com uma caneta de luz.
  • Foi o primeiro sistema de hipertexto disponível em hardware comercial, acessível a usuários não especialistas.

Funcionalidades principais:

  • Texto ramificado: permitia criar menus e navegar por seções interligadas.
  • Links nomeados: pontos do texto podiam receber nomes (labels) e ser acessados diretamente.
  • Botão “voltar”: Ted Nelson afirma que o HES foi o primeiro sistema com uma função de “undo” — o precursor do botão “voltar”.
  • Foco em formatação e impressão: além da navegação, o sistema ajudava na produção de documentos complexos.

Aplicações:

  • Utilizado pela NASA para documentação técnica do programa Apollo.
  • Financiado pela IBM, mas descontinuado em 1969 devido a limitações de memória e desempenho.

FRESS (File Retrieval and Editing System) – Pós-1969

  • Criado como sucessor do HES, também por Andy van Dam e equipe.
  • Rodava em sistemas operacionais comerciais e suportava documentos muito mais complexos.

Avanços em relação ao HES:

  • Separação entre estrutura e formatação: permitia aplicar estilos sem alterar o conteúdo.
  • Visualizações coordenadas: o usuário podia ver diferentes partes do documento simultaneamente.
  • Montagem dinâmica de documentos: conteúdo era adaptado automaticamente ao contexto, dispositivo ou perfil do usuário.
  • Ambiente colaborativo: usado para ensino, pesquisa e publicação acadêmica.

Legado

  • HES e FRESS foram precursores diretos do HTML, dos editores de texto modernos e dos sistemas wiki.
  • Andy van Dam é considerado um dos pais do hipertexto, e seu trabalho influenciou gerações de pesquisadores em computação, design de interfaces e web semântica.

Explicação de Ted Nelson: https://www.youtube.com/watch?v=1yLNGUeHapA

Doug Engelbart Apresenta o Sistema NLS na FJCC – 1968

O evento de 1968, quando Doug Engelbart apresentou o sistema NLS na FJCC (Fall Joint Computer Conference), é considerado um dos momentos mais revolucionários da história da computação.

O que foi o NLS?

NLS significa oN-Line System. Foi um sistema de hipertexto colaborativo desenvolvido por Doug Engelbart e sua equipe no Stanford Research Institute (SRI). O objetivo era amplificar a inteligência humana por meio da tecnologia — não apenas automatizar tarefas, mas expandir a capacidade de pensar, colaborar e resolver problemas.

A "Mother of All Demos" – 1968

Em 9 de dezembro de 1968, Engelbart fez uma apresentação de 90 minutos na FJCC que ficou conhecida como “The Mother of All Demos”. Nessa demonstração, ele mostrou pela primeira vez:

  • O mouse — inventado por ele e usado para navegar em telas.
  • Hipertexto — links clicáveis entre documentos.
  • Colaboração remota — dois usuários editando o mesmo documento em tempo real.
  • Editor de texto estruturado — com navegação hierárquica.
  • Videoconferência rudimentar — com áudio e vídeo entre locais diferentes.
  • Busca e navegação por conteúdo — com comandos de teclado e mouse.

Tudo isso em 1968, antes mesmo da criação do microcomputador ou da internet como conhecemos.

Funcionalidades do NLS

Recurso Descrição
Hipertexto Documentos interligados por links clicáveis.
Estrutura hierárquica Navegação por tópicos e subtópicos, como uma árvore de conhecimento.
Colaboração em tempo real Vários usuários podiam editar e comentar simultaneamente.
Controle de versão Histórico de alterações e rastreamento de autoria.
Interface gráfica Uso do mouse para apontar, clicar e interagir com a tela.

Impacto e legado

  • Inspirou diretamente o desenvolvimento da interface gráfica dos computadores pessoais.
  • Influenciou sistemas como o Macintosh, o Windows, o HTML e os wikis.
  • Engelbart não queria apenas facilitar o uso do computador — ele queria transformar a forma como pensamos e colaboramos.

Link para a apresentação original aqui: The Mother of All Demos (1968) – Stanford Archive

Surge o ZOG na CMU, Precursor do Sistema KMS – 1975

ZOG, criado em 1975 na Carnegie Mellon University (CMU) — um sistema pioneiro de hipertexto que influenciou diretamente o desenvolvimento do KMS (Knowledge Management System) e antecipou muitos conceitos da navegação digital moderna.

O que foi o ZOG?

  • ZOG era um sistema de hipertexto baseado em nós, desenvolvido por Donald McCracken e Robert Akscyn no Departamento de Psicologia da CMU.
  • Seu objetivo era organizar e acessar informações complexas de forma intuitiva, especialmente em ambientes militares e técnicos.
  • Foi um dos primeiros sistemas a usar menus hierárquicos e links navegáveis para representar conhecimento.

Estrutura do ZOG

ZOG organizava o conteúdo em "frames" — unidades de informação que funcionavam como páginas ou nós.

Cada frame continha:

  • Um título (nome do nó).
  • Um corpo de texto com informações.
  • Uma lista de opções (links para outros frames).

Essa estrutura permitia ao usuário navegar por menus, escolher caminhos e explorar o conteúdo de forma não linear, como em um sistema de hipertexto moderno.

Aplicações práticas

  • ZOG foi usado em ambientes militares, como em navios da Marinha dos EUA, para gerenciar informações operacionais.
  • Também foi aplicado em sistemas de suporte técnico, onde operadores precisavam acessar rapidamente instruções e dados.

Evolução para o KMS

  • Em 1983, ZOG evoluiu para o KMS (Knowledge Management System), desenvolvido por Akscyn, McCracken e Yoder.
  • O KMS manteve a estrutura de frames, mas foi adaptado para ambientes colaborativos, com suporte a múltiplos usuários.
  • Rodava em estações de trabalho como o Sun Microsystems, e foi usado por empresas e organizações governamentais.

Legado

ZOG e KMS anteciparam várias ideias que hoje são comuns:

Conceito moderno Antecipado por ZOG/KMS
Navegação por menus Frames com opções de escolha
Links entre páginas Frames conectados por hipertexto
Interface não linear Estrutura de navegação por associação
Sistemas colaborativos KMS com múltiplos usuários simultâneos
Gestão de conhecimento Organização de dados técnicos e operacionais

Aspen Movie Map no MIT: Primeiro Videodisco Hipermídia – 1978

O Aspen Movie Map, criado em 1978 no MIT, foi um projeto pioneiro que antecipou tecnologias como o Google Street View, realidade virtual e hipermídia interativa.

O que foi o Aspen Movie Map?

  • Desenvolvido pelo Architecture Machine Group do MIT (precursor do MIT Media Lab).
  • Criado para simular uma experiência de navegação por Aspen, Colorado, como se o usuário estivesse dirigindo pela cidade.
  • Usava um videodisco interativo — uma tecnologia analógica que permitia acesso rápido a trechos de vídeo por controle remoto.

Objetivo do projeto

  • Permitir que usuários explorassem uma cidade remotamente, escolhendo rotas e visualizando ruas, prédios e pontos turísticos.
  • Era uma forma de navegação espacial interativa, com elementos de hipertexto e hipermídia.
  • Criado com apoio da DARPA, com interesse em simulações militares e urbanas.

Como funcionava na prática

  • Um carro equipado com câmeras percorreu todas as ruas de Aspen, filmando em intervalos regulares.
  • Os vídeos foram organizados em um videodisco laser, com cada trecho indexado por localização.
  • O usuário podia:
    • Escolher uma rua e “dirigir” virtualmente.
    • Parar em locais específicos e ver fotos históricas, mapas, dados arquitetônicos.
    • Navegar por menus interativos com informações contextuais.

Elementos inovadores

Recurso Inovação na época
Hipermídia Combinação de vídeo, imagem, texto e navegação.
Interface interativa Controle remoto para escolher caminhos e ações.
Simulação urbana Representação visual de uma cidade em tempo real.
Navegação não linear O usuário decidia o percurso, como em um hipertexto.

Legado e influência

  • Antecipou tecnologias como:
    • Google Street View
    • Realidade virtual urbana
    • Sistemas de navegação GPS com visualização
  • Inspirou pesquisas em interfaces homem-máquina, design de interação e educação digital.
  • Mostrou que vídeo podia ser navegado como texto, abrindo caminho para a hipermídia moderna.

Link mostrando o Aspen map: https://www.youtube.com/watch?v=2Ytd12d6qNw

Filevision da Telos: Banco de Dados Hipermídia para Macintosh – 1984

Filevision, lançado em 1984 pela empresa Telos Systems, foi um dos primeiros exemplos de banco de dados hipermídia para computadores pessoais — especificamente para o Apple Macintosh.

O que era o Filevision?

  • Filevision foi um software pioneiro que combinava dados estruturados (como planilhas ou bancos de dados) com elementos gráficos e hipertexto.
  • Criado para o Macintosh original, aproveitava sua interface gráfica para permitir navegação visual entre informações.
  • Era voltado para usuários não técnicos, permitindo que qualquer pessoa organizasse e acessasse dados complexos de forma intuitiva.

Funcionalidades principais

Recurso Descrição
Interface gráfica interativa Usava janelas, ícones e menus para representar dados visualmente.
Links entre registros Permitia conectar informações como em um sistema de hipertexto.
Visualização em mapa Os dados podiam ser organizados em diagramas ou mapas conceituais.
Busca e filtragem O usuário podia navegar, buscar e filtrar registros com facilidade.
Multimídia Suporte limitado a imagens e gráficos, antecipando o conceito de hipermídia.

Exemplo prático

Imagine que você está organizando um banco de dados de clientes:

  • Cada cliente tem uma ficha visual com nome, endereço, histórico de compras.
  • Você pode clicar em um produto e ver todos os clientes que o compraram.
  • Pode navegar por mapas de relacionamento, como uma rede de conexões entre dados.

Essa abordagem era revolucionária em 1984, quando a maioria dos bancos de dados eram apenas linhas de texto em terminais.

Legado

Filevision antecipou conceitos que hoje vemos em:

  • Notion (blocos interativos e visualizações múltiplas)
  • Tinderbox (mapas conceituais e hipertexto pessoal)
  • Obsidian (links entre notas e visualização em grafo)

Mostrou que dados não precisam ser lineares ou tabulares — eles podem ser navegados visualmente, como ideias interligadas.

Symbolics Document Examiner, por Janet Walker – 1985

O Symbolics Document Examiner, criado por Janet Walker em 1985, foi um marco na história da hipermídia e da documentação técnica. Ele introduziu conceitos que anteciparam a forma como navegamos e lemos documentos digitais hoje — especialmente em ambientes de programação e sistemas complexos.

O que era o Symbolics Document Examiner?

  • Desenvolvido pela empresa Symbolics Inc., especializada em computadores Lisp.
  • Criado por Janet Walker, uma pesquisadora em interação humano-computador.
  • Era um sistema de documentação técnica hipermídia, usado para navegar e consultar os manuais do sistema operacional Genera, que rodava nos computadores Lisp da Symbolics.

Funcionalidades principais

Recurso Descrição
Hipertexto navegável Os documentos eram interligados por links clicáveis, como páginas da web.
Interface gráfica Usava janelas e menus em um ambiente gráfico, raro para a época.
Navegação por tópicos Os usuários podiam explorar a documentação por temas e subtópicos.
Busca contextual Permitia localizar termos e conceitos com precisão.
Documentação viva Os textos eram atualizados dinamicamente conforme o sistema evoluía.

Aplicação prática

Imagine que você é um programador usando o sistema Genera:

  • Você quer entender como funciona um comando Lisp.
  • Abre o Document Examiner e vê uma explicação detalhada, com links para exemplos, funções relacionadas e histórico de versões.
  • Pode clicar em termos técnicos e navegar por trilhas de conhecimento, como em uma enciclopédia interativa.

Inovações e legado

O Document Examiner antecipou várias ideias que hoje são comuns:

  • Documentação interativa: como o Javadoc, Dash, DevDocs ou a ajuda do VS Code.
  • Navegação por hipertexto técnico: como em wikis, manuais online e sistemas de ajuda.
  • Ambientes de leitura não linear: como Obsidian, Roam Research ou mesmo a web.

Janet Walker foi pioneira ao mostrar que documentação técnica não precisa ser estática — ela pode ser explorável, conectada e adaptável.

Link para o vídeo de Janet Walker explicando: https://www.youtube.com/watch?v=7DxYj32cvoE

InterMedia, da Brown University, Liderado por Norman Meyrowitz – 1985

O InterMedia, desenvolvido em 1985 na Brown University sob liderança de Norman Meyrowitz, foi um dos sistemas de hipermídia mais avançados da década de 1980. Ele não só expandiu os conceitos de hipertexto, como também introduziu a ideia de hipermídia colaborativa, integrando texto, imagem, vídeo e som em um ambiente interativo — algo visionário para a época.

O que era o InterMedia?

  • Um sistema de hipermídia distribuído e colaborativo.
  • Criado para rodar em estações de trabalho Apollo e Sun, com interface gráfica.
  • Desenvolvido por um grupo interdisciplinar de pesquisadores em computação, design, educação e comunicação.
  • Visava suportar ensino, pesquisa e escrita acadêmica, permitindo que usuários criassem e navegassem por redes de documentos interligados.

Funcionalidades principais

Recurso Descrição
Links bidirecionais Cada documento sabia quem o citava e quem ele citava.
Multimídia integrada Suporte a texto, imagem, vídeo, áudio e gráficos interativos.
Colaboração em tempo real Vários usuários podiam editar e comentar documentos simultaneamente.
Navegação contextual Links podiam ser ativados por contexto, não apenas por palavras-chave.
Controle de versão Histórico completo de alterações e autoria.
Ambiente modular Documentos eram compostos por módulos interligados, como blocos de ideias.

Aplicações práticas

  • Usado em projetos educacionais, como cursos interativos e bibliotecas digitais.
  • Aplicado em pesquisa acadêmica, permitindo anotações colaborativas, trilhas de leitura e referências cruzadas.
  • Facilitava a criação de documentos vivos, que evoluíam com o tempo e com a contribuição de múltiplos autores.

Inovações e legado

InterMedia antecipou várias tecnologias modernas:

Conceito moderno Antecipado por InterMedia
Wikis colaborativos Edição simultânea e rastreamento de autoria.
HTML com multimídia Links entre texto, imagem, vídeo e som.
Sistemas como Notion Blocos interativos e documentos modulares.
Obsidian/Roam Research Links bidirecionais e navegação por associação.
Controle de versão (Git) Histórico completo de alterações em documentos.

Diferenças em relação ao hipertexto tradicional

Enquanto sistemas anteriores como o NLS ou o FRESS focavam em texto estruturado e navegação hierárquica, o InterMedia:

  • Apostava em navegação fluida e contextual.
  • Tratava mídias diferentes como iguais — texto, imagem e vídeo eram todos “nós” na rede.
  • Incentivava a colaboração ativa, com múltiplos autores e leitores interagindo com o conteúdo.

Norman Meyrowitz publicou diversos estudos sobre o sistema, incluindo:

  • “Intermedia: The Architecture and Construction of an Object-Oriented Hypermedia System” (1986)
  • “Issues in the Design of Intermedia: A Case Study of the Brown University Hypermedia Project”

OWL Lança o Guide, Primeiro Hipertexto Amplamente Disponível – 1986

Guide, criado pela empresa OWL (Office Workstations Limited) em 1986 — considerado o primeiro sistema de hipertexto amplamente disponível comercialmente para computadores pessoais.

O que era o Guide?

  • Guide foi um software de hipertexto desenvolvido para o Apple Macintosh e mais tarde para Microsoft Windows.
  • Criado pela empresa britânica OWL, fundada por Peter Brown, um pesquisador que já havia trabalhado com sistemas como InterMedia.
  • Foi o primeiro sistema de hipertexto vendido comercialmente, disponível para qualquer usuário — não apenas em laboratórios ou ambientes acadêmicos.

Funcionalidades principais

Recurso Descrição
Links embutidos Palavras ou frases no texto podiam ser clicadas para abrir novos conteúdos.
Pop-ups e janelas flutuantes Informações adicionais podiam aparecer sem sair da página principal.
Navegação hierárquica Os documentos eram organizados em níveis, como capítulos e subcapítulos.
Retorno fácil O usuário podia voltar rapidamente ao ponto anterior — como um botão “voltar”.
Interface gráfica amigável Aproveitava os recursos visuais do Macintosh para facilitar a leitura.

Aplicações práticas

  • Usado para criar manuais técnicos, enciclopédias, material educacional e documentação de software.
  • Permitia que autores criassem documentos interativos, com caminhos alternativos de leitura.
  • Facilitava a exploração não linear do conteúdo — o leitor escolhia o que queria aprofundar.

Inovações e legado

O Guide antecipou várias ideias que se tornariam padrão na web e em sistemas digitais:

Conceito moderno Antecipado por Guide
Links clicáveis (HTML) Palavras que abrem novos conteúdos ao serem clicadas.
Tooltips e pop-ups Informações adicionais sem mudar de página.
Navegação por contexto Leitura adaptada ao interesse do usuário.
Documentação interativa Como em sistemas de ajuda, tutoriais e wikis.

Comparação com outros sistemas da época

Sistema Ano Público-alvo Característica principal
NLS 1968 Acadêmico/militar Colaboração e estrutura hierárquica
FRESS 1969+ Acadêmico Documentos modulares e links bidirecionais
InterMedia 1985 Universitário Hipermídia colaborativa
Guide (OWL) 1986 Comercial/amplo Interface gráfica e hipertexto acessível

Por que foi importante?

  • Democratizou o acesso ao hipertexto, antes restrito a laboratórios e universidades.
  • Mostrou que qualquer pessoa podia criar e navegar por documentos interativos.
  • Influenciou diretamente o desenvolvimento do HTML, navegadores web e sistemas de ajuda digital.

Apple Lança o HyperCard, Criado por Bill Atkinson – 1987

HyperCard, criado por Bill Atkinson e lançado pela Apple em 1987 — um dos marcos mais importantes na história da computação pessoal e da hipermídia.

O que era o HyperCard?

  • HyperCard era uma aplicação para o Apple Macintosh que combinava elementos de banco de dados, editor de texto, sistema gráfico e hipertexto.
  • Criado por Bill Atkinson, também responsável pelo MacPaint e parte da equipe original do Macintosh.
  • Permitia aos usuários criar “pilhas” de cartões — cada um com texto, imagens, botões e scripts — que podiam ser interligados por links clicáveis.

Estrutura do HyperCard

Elemento Função
Card (cartão) Unidade básica de conteúdo — como uma página ou tela.
Stack (pilha) Conjunto de cartões interligados — como um aplicativo ou documento.
Buttons Elementos clicáveis que executavam ações ou levavam a outros cartões.
Fields Áreas de texto editáveis — para entrada ou exibição de dados.
Scripts Código escrito em HyperTalk, a linguagem de programação do sistema.

HyperTalk: a linguagem do HyperCard

  • Criada por Dan Winkler, HyperTalk era uma linguagem de programação semelhante ao inglês, acessível a usuários não técnicos.
  • Exemplo de comando:
go to card "Menu"

Aplicações práticas

  • Educação: professores criavam materiais interativos, quizzes e simulações.
  • Jogos: muitos jogos experimentais foram feitos com HyperCard, incluindo o famoso Myst (1993).
  • Organização pessoal: usuários criavam agendas, catálogos, diários e sistemas de referência.
  • Prototipagem: designers usavam HyperCard para simular interfaces e fluxos de navegação.

Inovações e legado

Conceito moderno Antecipado por HyperCard
Navegação por hipertexto Links entre cartões como páginas da web.
Aplicativos modulares Pilhas como apps com lógica e interface.
Programação acessível Linguagem natural para scripts interativos.
Multimídia interativa Combinação de texto, imagem e som em um só ambiente.
Prototipagem visual Criação rápida de interfaces e fluxos de usuário.

Por que foi revolucionário?

  • Em uma época em que a maioria dos softwares era rígida e técnica, o HyperCard oferecia liberdade criativa.
  • Democratizou o desenvolvimento de software: qualquer pessoa podia criar experiências interativas.
  • Influenciou diretamente o surgimento da web, do HTML, dos wikis, e até de ferramentas como Notion, Scratch, Obsidian e PowerApps.

Onde ver o HyperCard em ação?

Link para vídeo do HyperCard: https://www.youtube.com/watch?v=HkViT_pp9vk

Realização do Hypertext'87 Workshop – 1987

O Hypertext’87 Workshop, realizado de 13 a 15 de novembro de 1987 em Chapel Hill, Carolina do Norte, foi o primeiro encontro acadêmico formal dedicado exclusivamente ao estudo e desenvolvimento de sistemas de hipertexto e hipermídia. Ele marcou o nascimento da comunidade científica de hipertexto e lançou as bases para conferências como a ACM Hypertext e a Web Conference.

Contexto histórico

Na década de 1980, o conceito de hipertexto estava ganhando força em universidades, laboratórios e empresas. Sistemas como InterMedia, KMS, Guide, HyperCard e o Document Examiner já estavam em desenvolvimento ou em uso. No entanto, não havia ainda um fórum unificado para pesquisadores compartilharem ideias, discutirem padrões e colaborarem.

Foi nesse cenário que surgiu o Hypertext’87 Workshop, organizado por Stephen P. Weiss e Mayer Schwartz, com apoio da ACM (Association for Computing Machinery).

Onde e quando

  • Data: 13 a 15 de novembro de 1987
  • Local: University of North Carolina at Chapel Hill
  • Formato: Workshop com apresentações, demonstrações de sistemas e discussões técnicas

Principais temas abordados

Tema Descrição
Modelos de hipertexto Estruturas de nós e links, navegação não linear, redes semânticas.
Interfaces de usuário Design de sistemas interativos, usabilidade, visualização de conexões.
Aplicações práticas Educação, documentação técnica, engenharia de software, literatura.
Cognição e leitura Como os usuários compreendem textos não lineares e navegam por links.
Ferramentas e sistemas Demonstrações de sistemas como KMS, SuperBook, Hyperties, InterMedia.

Trabalhos e autores notáveis

  • Robert Akscyn, Donald McCracken e Elise Yoder apresentaram o KMS, sistema colaborativo de gestão de conhecimento.
  • Ben Shneiderman mostrou o Hyperties, uma enciclopédia eletrônica com interface gráfica.
  • Christine Neuwirth e David Kaufer discutiram o Notes Program, voltado para escrita acadêmica com fontes interligadas.
  • Darrell Raymond e Frank Tompa exploraram o uso de hipertexto na construção do Novo Dicionário Oxford.
  • Joel Remde, Louis Gomez e Thomas Landauer apresentaram o SuperBook, sistema de busca e navegação automática em textos técnicos.

Impacto e legado

  • Fundou a comunidade científica de hipertexto, que viria a organizar conferências regulares como:
    • ACM Hypertext (posteriormente ACM Hypertext and Hypermedia)
    • WWW Conference (hoje The Web Conference)
  • Estabeleceu padrões conceituais e técnicos para o desenvolvimento de sistemas de hipertexto.
  • Incentivou a interdisciplinaridade, reunindo cientistas da computação, psicólogos cognitivos, educadores e designers.
  • Influenciou diretamente o surgimento da World Wide Web, que seria proposta por Tim Berners-Lee apenas dois anos depois, em 1989.

Primeira Edição da ECHT (European Conference on HyperText) – 1990

A primeira edição da ECHT (European Conference on HyperText) aconteceu de 27 a 30 de novembro de 1990 em Versailles, França, e foi um marco na consolidação da comunidade europeia de pesquisa em hipertexto e hipermídia. Ela reuniu acadêmicos, desenvolvedores e teóricos para discutir os fundamentos, aplicações e desafios do hipertexto em diversas áreas.

Contexto histórico

Até 1990, os principais eventos sobre hipertexto eram realizados nos Estados Unidos, como o Hypertext’87 Workshop e o ACM Hypertext Conference. A Europa, apesar de ter centros de pesquisa ativos (como o INRIA na França e o GMD na Alemanha), ainda não tinha um fórum próprio. A ECHT foi criada para preencher essa lacuna e fortalecer a colaboração europeia em torno do hipertexto.

Detalhes do evento

  • Nome completo: European Conference on HyperText (ECHT 90)
  • Data: 27–30 de novembro de 1990
  • Local: Palais des Congrès de Versailles, França
  • Organização: INRIA (Institut National de Recherche en Informatique et en Automatique)
  • Editores dos anais: Antoine Rizk, Norbert A. Streitz, Jacques André
  • Publicação: Cambridge University Press

Estrutura e conteúdo

O evento foi dividido em:

  • 1 dia de tutoriais: com sessões paralelas sobre sistemas, design e teoria.
  • 3 dias de apresentações técnicas: com artigos científicos, demonstrações de sistemas e painéis de discussão.
  • Sessões temáticas: incluindo navegação, modelagem de dados, design de interfaces, argumentação, e aquisição de conhecimento.

Trabalhos e sistemas apresentados

Alguns destaques dos artigos e sistemas apresentados:

  • KMS (Knowledge Management System) – por Akscyn, McCracken e Yoder: sistema colaborativo baseado em frames.
  • Hyperties – por Ben Shneiderman: enciclopédia eletrônica com interface gráfica.
  • SuperBook – por Remde, Gomez e Landauer: sistema de busca e navegação em textos técnicos.
  • PHIDIAS – por Raymond McCall: integração de gráficos CAD com hipertexto dinâmico.
  • Author’s Argumentation Assistant (AAA) – por Wolfgang Schuler: ferramenta para escrita argumentativa com suporte hipertextual.
  • HyperBase – por Helge Schütt e Norbert Streitz: motor de hipermídia baseado em banco de dados relacional.
  • Andrew Toolkit Hypermedia Facilities – por Sherman e equipe: construção de sistemas hipermídia sobre toolkits multimídia.

Participação de Tim Berners-Lee

Tim Berners-Lee e Robert Cailliau, do CERN, participaram da ECHT 90 e apresentaram suas ideias iniciais sobre um sistema global de hipertexto — o embrião da World Wide Web. Embora ainda em fase conceitual, essa participação foi decisiva para o reconhecimento da web como uma proposta viável dentro da comunidade de hipertexto.

Impacto e legado

  • Estabeleceu a ECHT como o principal evento europeu de hipertexto, que mais tarde se fundiria com a conferência americana da ACM.
  • Promoveu o intercâmbio entre pesquisadores europeus e americanos, acelerando o desenvolvimento de padrões e sistemas interoperáveis.
  • Influenciou diretamente o surgimento da web, ao legitimar propostas como a de Berners-Lee.
  • Consolidou áreas de estudo como navegação, modelagem semântica, interfaces e cognição em leitura digital.