Blaise Pascal

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Biografia

Blaise Pascal nasceu em 19 de junho de 1623, em Clermont-Ferrand, na França, filho de Étienne Pascal e Antoniette Bejon. Com apenas três anos, Blaise perdeu a mãe e o seu pai encarregou-se diretamente da sua educação. Étienne, seu pai, desenvolveu um método singular na educação do filho, com exercícios de diversos tipos para despertar a razão e o juízo correto. Usou os jogos para ensinar várias disciplinas como Geografia, História e Filosofia.

As aulas de Matemática só fizeram parte dos estudos quando este apresentou indícios de estar mais maduro. Desta forma, o pai mantinha longe do menino os grossos livros de Matemática, mas desde cedo Pascal teve uma curiosidade sobre aqueles estranhos assuntos. De conversas que ouvia ou de obras que passavam pela censura do pai, logo descobriu as maravilhas da ciência dos números.

Mesmo sem professor ou livro-texto, sozinho passou a desenvolver seus estudos. Certo dia, seu pai viu o jovem rapaz desenhar a carvão figuras geométricas das várias proposições da Matemática de Euclides. Pascal chegou à 32ª fórmula proposta no livro 1 do velho sábio (a soma dos ângulos internos de qualquer triângulo é igual a dois ângulos retos, ou seja: 180º; isto permite a determinação da medida do terceiro ângulo, desde que sejam conhecidas as medidas dos outros dois ângulos), e, por esta razão, foi-lhe dada permissão para que avançasse livremente sobre aqueles ramos do conhecimento.

Pascal juntou-se aos sábios do Círculo de Mersenne quando tinha apenas 13 anos de idade. Ali, pôde colecionar informações para desenvolver mais rapidamente seus trabalhos.

Aos 17 anos, descobriu e publicou uma série de teoremas de Geometria, fundamentais ao desenvolvimento tecnológico futuro, como, por exemplo, o campo da aviação. Mais tarde, para ajudar o pai, sempre ocupado com números, dedicou-se a criar uma máquina de calcular. Para que possamos imaginar a revolução causada no nosso presente, Pascal é o nome de uma importante e famosa linguagem base para computadores, usada em todo mundo.

Pascal desenvolveu importantes estudos que tiveram como inspiração as descobertas do italiano Torricelli sobre a pressão atmosférica.

A partir de 1647, Pascal, dedicou todos os seus esforços à Aritmética, desenvolvendo cálculos de probabilidades, a fórmula de geometria do acaso, o conhecido Triângulo de Pascal e o tratado sobre as potências numéricas.

Pascal contribuiu decisivamente para a criação de dois novos ramos da Matemática: a Geometria Projetiva e a Teoria das Probabilidades.

Em Física, estudou a mecânica dos fluidos, e esclareceu os conceitos de pressão e de vácuo, ampliando o trabalho do físico e matemático italiano. Evangelista Torricelli (Faenza, 15 de outubro de 1608 – Florença, 25 de outubro de 1647).

Pascal é, ainda, o inventor da primeira máquina de calcular mecânica – a Pascaline – e de estudos sobre o método científico.

Todo este esforço aliado à falta de descanso, arruinou a sua saúde, e ele, ainda muito jovem, caiu grave e irremediavelmente enfermo.

De repente, após ter tido, segundo ele, uma visão divina, Pascal abandonou as ciências para se dedicar exclusivamente à Teologia.

Depois de um ano de estudos particulares, recolheu-se à Abadia de Port-Royal des Champs, centro do Jansenismo – movimento de caráter dogmático, moral e disciplinar, em reação a certas doutrinas e práticas no seio da Igreja Católica, que assumiu também contornos políticos, tendo se desenvolvido, principalmente, na França e na Bélgica, nos séculos XVII e XVIII – só voltando às ciências em 1658. Durante este período, publicou os seus principais livros filosófico-religiosos: Les Provinciales, conjunto de 18 cartas, e Pensées, um tratado sobre a espiritualidade, em que, inspirado em Santo Agostinho, fez a defesa do Cristianismo. É em sua obra Pensées que está a sua frase mais citada:

O Coração tem suas Razões que a razão desconhece.

Como teólogo e escritor, Pascal destacou-se como um dos mestres do Racionalismo e do Irracionalismo modernos, e sua obra influenciou os ingleses Charles e John Wesley, fundadores da Igreja Metodista. No caso do Irracionalismo, pontualmente escreve o professor João Evangelista, citado por João dos Santos Filho em seu texto Neoliberalismo: Lógica do Irracionalismo (Ensaio Sociológico Sobre o Neoliberalismo):

Foi deflagrada uma colossal onda irracionalista, cujo epicentro está em Paris e seus arredores. O Irracionalismo tomou corpo pela desreferencialização do real, pela dessubstancialização do sujeito e pelo descentramento da política.

Um dos tratados de Pascal sobre Hidrostática, Traité de L'équilibre des Liqueurs, só foi publicado um ano após sua morte, onde esclareceu os princípios barométricos, da prensa hidráulica e da transmissibilidade de pressões. Foi nesta obra que estabeleceu o Princípio de Pascal que afirma:

Em um líquido em repouso ou em equilíbrio, as variações de pressão transmitem-se igualmente e sem perdas para todos os pontos da massa líquida

Princípio usado no presente, no funcionamento do macaco hidráulico.

Na Mecânica, é homenageado com a unidade padrão de pressão e tensão do Sistema Internacional de Unidades (Pa), que equivale à força de 1 N aplicada uniformemente sobre uma superfície de 1 m².

Sempre teve uma saúde frágil, acabando por adoecer gravemente em 1659, e morrendo em 19 de agosto de 1662, dois meses após completar 39 anos.

Pensamentos Pascalianos

Princípio de Pascal:

O acréscimo de pressão exercida em um ponto em um líquido ideal em equilíbrio transmite-se integralmente a todos os pontos deste líquido e às paredes do recipiente que o contém.

Teorema de Pascal:

(formulado por Blaise Pascal quando tinha apenas 16 anos de idade): Em um hexágono inscrito em uma cônica, as retas que contiverem os lados opostos se interceptam em pontos colineares, ou seja, se os seis vértices de um hexágono estão situados sobre uma circunferência e os três pares de lados opostos se intersecionam, os três pontos de interseção são colineares.

Ilustração do Teorema de Pascal
Os pontos B1, B2 e B3 são colineares, ou seja, estão sobre a mesma reta.

Observação: Em 184, o Teorema de Pascal foi generalizado por August Ferdinand Möbius (Schulpforta, 17 de novembro de 1790 – Leipzig, 26 de setembro de 1868) da seguinte forma: Supondo um polígono com 4n + 2 lados inscrito em uma seção cônica e os pares de lados opostos estendidos até se encontrarem em 2n + 1 pontos, então, se 2n de tais pontos forem colineares, o último ponto estará também sobre essa linha.

Outros Pensamentos:

  • O Coração tem suas Razões que a razão desconhece.
  • É mais fácil suportar a morte sem pensar nela do que suportar o pensamento da morte sem morrer.
  • Nunca nos detemos no momento presente. Antecipamos o futuro que nos tarda, como para lhe apressar o curso ou evocamos o passado que nos foge, como para o deter: tão imprudentes, que andamos errando nos tempos que não são nossos, e não pensamos no único que nos pertence, e tão vãos, que pensamos naqueles que não são nada, e deixamos escapar sem reflexão o único que subsiste. É que o presente, em geral, fere-nos. Nós o escondemos à nossa vista porque nos aflige; e se nos é agradável, lamentamos vê-lo fugir. Tentamos segurá-lo pelo futuro, e pensamos em dispor as coisas que não estão na nossa mão, para um tempo a que não temos garantia alguma de chegar. Se você examinar cada um dos seus pensamentos, haverá de os encontrar todos ocupados no passado ou no futuro. Quase não pensamos no presente; e, se pensamos, é apenas para, à luz dele, dispormos o futuro. Nunca o presente é o nosso fim: o passado e o presente são meios, o fim é o futuro. Assim, nunca vivemos, mas esperamos viver; e, preparando-nos sempre para ser felizes, é inevitável que nunca o sejamos.
  • A Natureza detesta o vazio.
  • Uma gota de amor é mais que um oceano de intelecto.
  • Bom falador, mau caráter.
  • É muito difícil propor um problema ao entendimento alheio sem corromper esse entendimento pela maneira de propor! Se dizemos: acho isto belo, acho obscuro ou outra coisa semelhante, arrastamos a imaginação para este juízo ou a irritamos, levando-a ao juízo contrário. Mais vale nada dizer. E, então, o outro julgará segundo o que é ou segundo o que é naquele momento, e de acordo com o que as outras circunstâncias, de que não somos responsáveis, lá tiverem posto. Mas, pelo menos, nós não pusemos nada; a não ser que o nosso silêncio tenha também o seu efeito, segundo o sentido e a interpretação que ele estiver disposto a lhe atribuir, ou segundo o que depreende dos movimentos e da expressão do rosto ou do tom de voz, conforme for melhor ou pior fisionomista. Tão difícil é não deslocar um entendimento da sua base natural ou, antes, tão pouco um entendimento tem de firme e estável!
  • A desgraça descobre à alma luzes que a prosperidade não chega a perceber.
  • Aquele que duvida e não pesquisa se torna não só infeliz, mas, também, injusto.
  • Estamos cheios de coisas que nos empurram para fora. O nosso instinto faz-nos sentir que é preciso procurar a nossa felicidade fora de nós. As nossas paixões levam-nos para fora, mesmo quando os objetos se não oferecessem para as excitar. Os objetos de fora tentam-nos por si próprios e chamam-nos, ainda quando não pensamos neles. E assim, mesmo que os filósofos digam «recolhei-vos em vós mesmos; aí encontrareis o vosso bem», não se acredita neles...
  • Fiz esta carta mais longa do que o usual porque não tenho tempo para fazer uma mais curta.
  • Pode haver algo mais ridículo do que a pretensão de um homem me matar porque habita o outro lado do rio, e seu príncipe tem uma diferença com o meu, ainda que eu não tenha qualquer diferença com ele?
  • Tudo o que sei é que devo morrer em breve; mas o que mais ignoro é essa mesma morte, que não saberei evitar.
  • Eloquência positiva é aquela que persuade com doçura, não com violência, ou seja, como um rei, não como um tirano.
  • Se sonhássemos todas as noites a mesma coisa, ela nos afetaria tanto quanto os objetos que vemos todos os dias. E, se um artista estivesse seguro de sonhar todas as noites, durante doze horas, que é um rei, creio que seria quase tão feliz como um rei que sonhasse todas as noites, durante doze horas, que é um artista. Se sonhássemos todas as noites que somos perseguidos por inimigos e agitados por esses fantasmas penosos, e se passássemos todos os dias em diversas ocupações, como quando se faz uma viagem, sofreríamos quase tanto como se isso fosse verdadeiro, e apreenderíamos o dormir como se apreende o despertar quando se teme entrar em semelhantes desgraças realmente. E, com efeito, isto faria pouco mais ou menos o mesmo mal que a realidade. Mas, porque os sonhos são todos diferentes, e porque mesmo um se diversifica, o que se vê neles afeta bem menos que o que se vê acordado, por causa da continuidade, que não é, contudo, tão contínua e igual que não mude também, mas menos bruscamente, a não ser raramente, como quando se viaja. E, então, diríamos: «Parece-me que sonho». Pois, a vida é um sonho um pouco menos inconstante.
  • Deixemos um rei sozinho, sem nenhuma satisfação dos sentidos, sem nenhuma preocupação do espírito, sem companhia, a pensar apenas em si mesmo, e ver-se-á que um rei sem divertimentos é um homem muito desgraçado.
  • O rei está rodeado de pessoas que não pensam senão em o divertir e em impedir que pense em si mesmo. Porque, por mais rei que seja, se pensa nisso, é desgraçado.
  • A maior fraqueza do homem é poder tão pouco por aqueles que ama.
  • O mundo está cheio de boas citações; só falta aplicá-las.
  • Quando lemos demasiado depressa ou demasiado devagar, não entendemos nada.
  • Dizem que o hábito é uma segunda natureza. Quem sabe, pergunto, se a natureza não é primeiro um hábito.
  • Para quem não anseia senão ver há luz bastante; mais para quem tem oposta disposição, sempre há bastante escuridão.
  • Quando considero a duração mínima da minha vida, absorvida pela eternidade precedente e pela eternidade seguinte, o espaço diminuto que ocupo, e mesmo o que vejo, abismado na infinita imensidade dos espaços que ignoro e me ignoram, assusto-me e assombro-me de me ver aqui e não lá. Quem me pôs aqui? Por ordem de quem me foram destinados este lugar e este espaço?
  • Duas coisas instruem o homem, qualquer que seja a sua natureza: o instinto e a experiência.